Dia 2 de Janeiro de 2013
Nazdan Neto é um sujeito negro, barrigudo, possui o cabelo
raspado. Ele foi o primeiro a chegar à casa de sua família naquele dia, havia
passado o dia fora aproveitando uma “churrascada” de início de ano com a
namorada. Bebeu tanto que, quando adentrou seu quarto, caiu na cama e mal notou
que seu irmão Joel de Aparecida, mais conhecido como o vigilante misterioso de
Joanópolis, Rider, havia desaparecido desde o dia anterior.
Nazdan foi para o quarto de seus pais e ligou a televisão
velha que lá havia. Lá ele teve a infelicidade de ver as notícias do dia.
“Bom dia” Era Patrícia Poetisa, apresentadora substituta,
cuja qual iniciava o jornal de São Paulo todas as vezes que algum outro
jornalista estava de férias.
“Um conflito entre gangues rivais que aconteceu nesta madrugada causou destruição e mortes em um ginásio
abandonado próximo à saída para Pouso Alegre. Um grupo de traficantes se trancou
dentro do local e apenas evacuou-o após um confronto armado com a polícia. A
Reportagem é de Artemis Perrini.”
“A região lembra Berlim depois da guerra. O ginásio
localizado na avenida Mario Pinheiro foi completamente destruído quando duas
facções criminosas entraram em um conflito armado que apenas terminou quando a
Polícia Militar de São Paulo interveio. O Capitão da operação que levou mais de
quarenta presos e deixou quinze suspeitos feridos diz que a justiça ainda está
longe de ser feita.”
Vemos o cenário de guerra,
o ginásio completamente destruído, estilhaços e pedaços de tijolos por
todas as partes, o capitão da ROTA, Luan Carvalho, dá uma entrevista:
“Um dos nossos oficiais foi espancado gravemente por um dos
homens envolvidos no conflito, porém este havia escapado durante o caos
generalizado, estamos ainda procurando por ele e pelos demais membros das
organizações criminosas que escaparam ontem à noite.
Artemis continua a notícia.
“O Policial Nazdan de Aparecida Filho foi baleado e
espancado por criminosos no dia trinta de dezembro de dois mil e doze, as
autoridades suspeitam que o autor da agressão fora Alberto Everardo, o barão
das drogas da Vila Joanópolis, e pretendem leva-lo à justiça a qualquer custo.
A delegada Jonna Darc também pronunciou esta manhã que há suspeitas de que um
grupo de vigilantes esteja, de maneira ilegal, fazendo justiça por conta
própria.”
A Delegada, uma mulher branca, de cabelos lisos,
castanhos, vestindo as roupas da polícia
de Joanópolis, dá um pronunciamento.
“Ainda não sabemos o paradeiro dos envolvidos em atividades
de vigilância, mas nós abominamos qualquer tipo de tentativa de violência
contra criminosos, este é um trabalho para a polícia e estamos dispostos a
prender qualquer pessoa que esteja fazendo o nosso dever.”
Artemis Continua:
“O capitão da ROTA ainda diz que crê que a justiça somente
será feita quando o agressor do oficial Nazdan Filho for realmente
capturado. Eu sou Artemis Perrini, para o Bom Dia São Paulo.”
Nazdam Neto muda de canal apenas para deparar-se com um
programa de auditório, parecia ser um desses programas matutinos, com vários
apresentadores e pessoas dando suas opiniões quanto a incidente da noite
passada. Um homem de óculos, parecendo
ser o anfitrião do programa, dá sua opinião:
“Como a própria delegada alegou, não é recomendado realizar
esse tipo de ação contra criminosos, é uma atitude muito perigosa que pode
causar terríveis consequências para quem
tenta fazer justiça com as próprias mãos”
“Exatamente, e nós não apenas abominamos o ato de vigilância,
como incentivamos que essas pessoas sejam levadas à justiça da mesma maneira
que os criminosos e...”
Nazdan resolveu mudar de canal mais uma vez e deparou-se com
um programa policial, onde um apresentador, um homem gordo, de óculos, falava
sobre nada mais que o ocorrido da noite passada.
“Olha só mas que ironia, a polícia da cidade de São Paulo
está se tornando tão incompetente que nem prender o chefe do crime eles foram
capazes, e ainda por cima precisaram contar com outro grupo anônimo para
prender os criminosos que soltavam bombas contra a população nesta madrugada.
Nós do São Paulo Alerta não simpatizamos com a ação de justiceiros, mas com
certeza entendemos a situação do cidadão brasileiro, que está cansado de ser
tratado como lixo!”
Nazdan decide desligar a televisão e dormir um pouco para
repor as energias gastas na noite que terminou há algumas horas. De alguma
maneira ele sente raiva do irmão por este não demonstrar interesse no fato de
que o pai de ambos está morrendo, além de não ter deixado nenhuma notícia sobre
seu sumiço desde a noite anterior, sua família estava preocupada. Mas ele
estava cansado demais para se preocupar com isso.
Ao acordar, ele ainda se vê a sós em casa e ouve um chamado
de sua mãe e de sua irmã em seu celular, elas o requisitam no hospital, seu pai
ainda está em uma situação grave desde a noite em que foi agredido pelo
traficante e a família ainda precisa de apoio moral.
---
Meu nome é Alberto Everardo Junior, eu sou o filho do líder
de uma das facções criminosas mais poderosas não só da Vila Joanópolis, local
onde moro, mas também de Sampa em sua totalidade.
Eu sofri nas mãos de criminosos durante toda a minha vida.
Homens que disputavam o poder entre si, na Vila Joanópolis, pessoas que
roubavam, matavam, estupravam, assaltavam, vendiam coisas ilegais. Faziam com
que as pessoas tornassem-se dependentes de seus produtos e que, se não
pagassem, eram torturadas até a morte.
Eu lidei com quem fornecia recursos e segurança, ameaçando a
população. Pessoas que, em um jogo
insano de poder, cobravam por estes recursos, e pela segurança, ameaçando a
população. Pessoas armadas até os dentes, que faziam simplesmente o que queriam
com o povo. Pessoas que tinham negociações com a polícia, que não faz
absolutamente nada pela população.
Já enfrentei pessoas que queriam violar a minha paz, crianças,
adolescentes e adultos, todos querendo me azucrinar, me machucar e me
atemorizar. Pessoas que sabem que o poder se consegue na base da força, e a
força quem tem são poucos, privilegiados, enquanto a maioria se faz de tapete,
para que estes desgraçados pisem-na.
Eu conheço a sociedade onde vivo, eu sei como os homens de
poder operam. E todas essas coisas podem ser somadas e encontradas em apenas um
homem. O meu pai.
Mas existe um, porém, existe um homem que está se voltando
contra tudo isso. Um habitante de Joanópolis decidiu que o poder não pode mais
ficar nas mãos de poucos, existe um homem que está por aí, andando em uma
bicicleta, tentando ir contra a natureza da sociedade moderna.
O motivo eu ainda desconheço, eu ainda não sei por que este
homem decidiu fazer isso. Tudo o que sei é que eu devo ser o sujeito que trará
ordem ao caos. O caos que este mesmo sujeito criou. Eu sou o indivíduo que irá
fazer com que as coisas voltem à sua estabilidade e que a anarquia que ele está
criando seja parada antes que ele comece a influenciar outras pessoas. Antes
que isso se torne algo com proporções problemáticas para os poderosos.
E eu farei isso por que ontem à noite, ele matou o homem que
representa o poder nesta cidade, o homem que assola e que faz a população de
escravos. E esse homem é o meu pai.
Este vigilante está tendo poder sobre os homens que têm
poder, ele é um lobo devorando lobos. Ele está oprimindo aqueles que oprimem.
Ele está tendo poder sobre a soma de todas as coisas que têm poder sobre o povo
de Joanópolis. Ele conseguiu eliminar o seu maior representante. E está
causando medo em todos os seus subalternos. Consequentemente, agora ele está se
tornando o homem mais poderoso de Joanópolis.
E eu vou mata-lo por um único e simples motivo:
Era eu quem deveria assumir esse cargo.
---
O Agente da ROTA, Luan Carvalho, teve uma noite ponderável.
Ele foi o responsável pela operação que matou sete criminosos e deixou mais
quinze feridos na noite do dia primeiro de Janeiro, todos eles estavam em celas
provisórias, usadas apenas para pessoas que ainda não haviam sido levadas ao
tribunal e julgadas. Além disso, ele fora presenteado com o que agora todos
chamavam de homem-fantasma. Alguém ou algum grupo de pessoas feriu vários
criminosos que estavam em conflito durante a noite passada. E era seu dever preencher
a papelada na delegacia e registrar cada pista e cada informação que ajudaria
os investigadores a descobrirem o paradeiro dos dois criminosos mais perigosos
da cidade.
Luan era pai de família, tinha uma filha de dezenove anos de
idade, uma esposa falecida e uma vida devidamente estressante como policial.
Era o sujeito que convivia com o investigador conhecido como Nazdan Filho, o
homem mais honesto que Luan já havia conhecido. Por um ato miserável do acaso,
ao tentar se infiltrar dentre os membros do grupo criminoso a serviço do homem
conhecido como Albert Einstein. Nazdan foi descoberto e espancado até entrar em
um estado agonizante.
Albert Einstein acreditou que o homem havia morrido em suas
mãos, mas ele sobreviveu e foi socorrido
por moradores locais. Nazdan agora estava em coma, em um leito de um hospital e
Luan estava disposto a encontrar Albert Einstein e sentenciá-lo da maneira que
deveria.
Quando Luan chegou ao seu local de trabalho, o Departamento
da Polícia Militar de Joanópolis estava repleto de policiais revoltados com o
ocorrido, eles queriam, a todo custo, vingança contra Albert Einstein. Havia
suspeita de que ele havia fugido do confronto na noite passada, alguns diziam
que ele havia sido morto, os investigadores ainda estavam em ação, tentando
provar se isso era de fato verdade ou não.
Luan passou pela calçada cheia de pessoas, alguns se diziam
policiais, outros apenas concordavam com a insatisfação dos mesmos.
Eles queriam que a justiça fosse feita. Queriam que o
criminoso que deixou Nazdan em coma fosse aprisionado, Luan não os culpava, pois
ele próprio desejava o mesmo, porém, decidiu entrar no meio do povão visando
alcançar a delegacia. Alguns policiais gritavam:
-Capitão, o Senhor está do nosso lado, não está?
Pergunta idiota. É
claro que ele estava. Eles haviam espancado um policial até que este estivesse
quase morto, não havia motivos para ir contra os protestos, Luan apenas não se
sentia disposto a se juntar a um grupo de insurgentes que faziam barulho
demais.
Ao adentrar o departamento, Luan deparou-se com familiares
dos criminosos presos, tentando conseguir comunicar-se com outros parentes,
dizendo que irão defender os prisioneiros na corte nem que seja a última coisa
que façam, apenas os homens de Albert Einstein importavam-se em pagar fiança,
já que muitos destes eram meliantes de rua considerados “pé de chinelo”. Luan já
tinha visto aquela cena centenas de vezes em sua carreira. Ele tentou acalmar
alguns dos presentes, visando ajudar sua superior.
-Ninguém aqui está autorizado a ver nenhum dos prisioneiros,
a liberdade deles depende da decisão do estado agora. Vocês terão tempo de
conversar com eles em horários de visita, se alguém mais insistir será
considerado cúmplice daquilo que eles são acusados, portanto sugiro que todos
saiam imediatamente do meu gabinete!
As pessoas começaram a evacuar o distrito, grande parte
delas reclamava, resmungava, e demonstrava total desaprovação quanto à atitude
da mulher. Alguns começaram a chorar.
-Delegada... – Luan fitou os olhos escuros da oficial.
-Como passou de ontem para hoje, Capitão? – Perguntou a
mulher, que se mostrou o mais cordial possível.
-Eu sinceramente estou tentando entender o que aconteceu
ontem à noite, quando chegamos à porta do ferreiro e encontramos todos aqueles
homens de terno baleados no chão, sem explicação nenhuma, juro que não faço
ideia. Já pensei que poderia ser uma terceira facção envolvida, mas para isso
eles teriam de...
-Teriam de? – Insistiu a Delegada.
-Sei lá, eles teriam de ser ninjas, ou alguma coisa do
tipo...
Os dois riram por um instante.
-Bom, eu estou começando a achar que foi apenas uma pessoa,
e que foi um sujeito de muita sorte, os prisioneiros estão comentando entre si
a respeito de um vigilante mascarado, um homem negro vestido de verde e azul,
mas eu estou sinceramente pensando em colocar nossos investigadores para ver
esse tipo de assunto e... Bem... Falando no diabo...
Os policiais de fora da delegacia começaram a fazer tumulto,
ouviam-se gritos de indignação, protestos, dois oficiais haviam chegado ao
departamento, eles pareciam antagonizar os desejos dos protestantes em todos os
aspectos. A delegada e o capitão da ROTA saíram visando descobrir o que
acontecia.
-Mas que diabos está acontecendo aqui? –Falou a superior em
tom de autoridade, os policiais pararam o que estavam fazendo, quando revelaram
os dois renegados, que eram o motivo do tumulto.
Os dois permaneceram em silêncio, Jonna D’arc permaneceu em
posição de quem exigia uma explicação.
-Delegada, esses dois aqui são os caras que estavam com o
Nazdan quando ele foi mandado pra UTI!
-E existem centenas de relatos que dizem que os dois fugiram
feito um bando de cães assustados quando o “negão” foi torturado, Jonna! Você
tem que fazer alguma coisa a respeito deles! – Falou um dos policiais, seu nome
era Silveira.
-Silveira, você sabe muito bem que nós não
tivemos a chance de lutar contra os meliantes. Eles estavam fortemente armados!
E juro que se alguém encostar a mão em mim novamente será reportado
imediatamente! - Falou o investigador
Emir, um sujeito de cabelos castanhos, sobrancelhas escuras, dava a impressão
de ser uma mistura entre latinos e norte-europeus. Tinha uma altura média, Um
porte físico normal e uma expressão de poucos amigos.
Silveira por outro lado beirava os sessenta anos, gordo,
branco, ostentava um bigode castanho e um cabelo ralo, cuja linha já chegava
até metade de sua cabeça.
-Pois eu vou te mostrar como as coisas funcionam por aqui
seu novato de mer...
-Já chega, Silveira! –Falou a Delegada.
Emir havia chegado à cidade há pouco tempo, foi transferido
do distrito de Paulínia, um local com um índice criminal severamente mais
reduzido que Joanópolis, o que deixou Emir devidamente mal-acostumado.
Luan (que possuía um aspecto mais jovem para a sua idade,
magro, possuía olheiras e um cabelo castanho que, para um policial, precisava
de um corte) observava tudo com expressão de apatia. Tudo o que pensava era em Nazdan e em sua
família, e em seu pobre filho Joel, o garoto sempre foi a criança mais indefesa
do mundo, mal havia saído da adolescência e já teria de perder o pai.
-O que você tem a dizer a respeito disso, Renato? – Jonna
indagou o terceiro investigador que estava no dia em que Nazdan havia sido
espancado.
-Eu... Hã... Só estou
feliz de vocês não terem me enchido de porrada aqui... – Renato era também branco,
mas possuía o cabelo escuro, usava óculos de aros brancos, possuía um semblante
de quem temia por sua vida a todo instante, o típico covarde que deixaria o
melhor amigo de Luan ser espancado até a morte.
Alguns dos policiais começaram a rir da resposta dada pelo
segundo investigador.
-Vocês dois são ridículos! Pelamordedeus! – Falou Silveira
-Olha como fala comigo! – Falou Emir.
-Emir, você é cheio de não me toque!
-Renato, eu estou esperando você dar um pronunciamento,
fiquei sabendo que você esteve responsável por investigar o paradeiro do Albert
Einstein ontem. Vamos! Fale alguma coisa! – Insistiu Jonna Darc.
-Bem... A verdade é que eu e a minha equipe encontramos ele
morto nas imediações do antigo ginásio na saída da Avenida Mario Ribeiro... E o
que aconteceu foi que quebraram o pescoço dele...
Novamente houve um alvoroço, todos os policiais começaram a
discutir, alguns sorriam e aplaudiam, outros parecia não acreditar no que
ouviam.
-Delegada, o que você sugere? – Luan finalmente decidiu
dar-se voz.
-Eu preciso ver isso com meus próprios olhos.
Chegando à cena do crime, eles presenciaram o corpo do
criminoso mais perigoso de Joanópolis no chão, a marca do giz delineava-o,
havia faixas da polícia impedindo o trânsito de civis na área de investigação,
os especialistas já faziam análises do cenário. O local era uma intersecção de
prédios pequenos, havia uma construção pública ao lado e um guindaste estava
estacionado. Havia sangue por todos os lados, e o corpo de Alberto Everardo
estava jogado sob uma escadaria.
-Bem, delegada... – Iniciou Renato
-Olha só pra esse filho da puta, mortinho da silva, dá até
um orgasmo mental em vê-lo apodrecendo aí. – Interrompeu Silveira.
- Posso continuar Seu Silveira?
-Considere isso um pagamento por você ter deixado o negão na
mão, mas já que você encontrou o Albert Einstein morto, eu vou deixar você
falar o que quiser.
-Obrigado... Como eu ia dizendo... O agente de observação me
disse que houve uma briga violenta nessa área, dois dos meliantes fugiram e o
terceiro, nosso companheiro aqui, terminou morto. O guindaste foi utilizado
para ferir um deles, que desmaiou durante o confronto mas levantou-se algum
tempo depois e fugiu da cena do crime, Quem eles são? Nós apenas suspeitamos
que um deles faça parte das organizações que estavam em confronto na noite
passada.
-Mas que coisa, e eu suponho que o terceiro tenha matado
Albert Einstein e fugido. Afinal este só pode ser um membro de uma terceira
gangue.
-Acho muito possível, Delegada, pois ontem nós lidamos com
dois grupos, mas parecia haver três em ação. – Terminou Luan.
-Pode ser o justiceiro do assalto à loja do posto São João
que aconteceu dia 29. Isso saiu no jornal e tudo mais. Quando eles foram presos
Eles começaram a comentar entre si que viram um sujeito negro de máscara, pelo
visto ele foi o responsável pela batida entre o caminhão e o carro que eles
tavam dirigindo. Mas se recusaram a comentar sobre isso, tão aguardando julgamento,
talvez falem quando forem ao tribunal. –Falou
Silveira.
Luan Interveio.
-Eu acho muito difícil ser apenas uma pessoa, Silveira. O
que aconteceu ontem foi o trabalho de uma milícia inteira.
-Eu não sei Luan, se você juntar as peças, pode haver uma conexão,
podemos estar lidando com um arruaceiro ou com algum grupo deles. – Falou a
Delegada.
-Arruaceiros batendo em bandidos? – Indagou Silveira.
-Então, suponho que agora nenhum de vocês vai querer nossas
cabeças mais, não é verdade, seu Silveira? –Falou Renato.
-Eu fico muito feliz por esse filho duma puta ter morrido,
mas isso não salva você e seu amiguinho Emir de serem dois covardes, Renato. –Respondeu
Silveira.
-Renato, você e o Emir ainda não estão salvos. Eu vou criar
uma força-tarefa pra invadir o esconderijo do Albert Einstein e pegar o resto
dos meliantes que estão por lá. Vocês serão os nossos espias. Vocês irão
monitorar as atividades do local até segunda ordem. Juro pra vocês que o
trabalho de vocês dois nesse distrito está apenas começando.
Luan sentia-se devidamente vingado, era deliciosamente cruel
saber que o maior criminoso de Joanópolis havia morrido pelas mãos de seja lá
quem fosse. Tudo o que Luan precisava fazer agora era dirigir-se ao distrito,
terminar de preencher os relatórios e depois capturar os criminosos restantes.
Ele sabia que agora Joanópolis seria um local menos problemático graças a algum
filho da mãe com uma mão muito boa para quebrar pescoços.
Mas Luan não era ingênuo, sabia que quando um criminoso
morre outro sempre toma o seu lugar.
E quem melhor para tomar o lugar de Albert Einstein que seu
próprio herdeiro? Albert Einstein Junior?
Luan já havia recebido notícias de suas atividades no narcotráfico e a
partir de agora o jovenzinho poderia tornar-se o mais novo inimigo da polícia.
---
Depois de passarem horas conversando, Joel e Tomas
conseguiram curar alguns dos ferimentos que o primeiro havia sofrido na noite
passada em sua luta contra Cabeça de Azeitona. Tomas conseguiu estancar alguns
dos inúmeros sangramentos que Joel possuía no rosto. Partes de seu corpo
estavam endurecidas, o que ambos julgavam serem ossos quebrados. Tomas foi
capaz de enfaixa-las na tentativa de manter o osso estável por algum tempo. Não
era nenhum gesso ou outro utensílio medicinal eficaz, mas talvez ajudasse o
herói a suportar a dor por alguns dias.
Joel de Aparecida entrou em casa e, para a sua sorte,
descobriu que nenhum de seus parentes estava no local. Ele apressou-se em
adentrar seu quarto, deitar-se na cama e em meio a sussurros e gemidos,
conseguiu pegar no sono rapidamente.
Ao meio-dia, Joel foi acordado pelo próprio Tomas, que
chegou com algumas notícias preocupantes.
-A polícia já tá sabendo do corpo do Albert Einstein.
-Eu... Não acredito... Eu tô Fodido!
Tomas permaneceu em silêncio.
-Tomas... Me diz que você fez alguma coisa pra me livrar
dessa, pelo amor de Deus!
Joel voltou a sentir dores no corpo.
-Eles vão me achar, eles vão ver as impressões digitais no
corpo do velho! No pescoço dele... Na cabeça! Sei lá! Aí vão me encontrar! Puta
que o pariu como eu fui idiota! Como eu fui imbecil! Por que? Por que? Por que
eu fui fazer isso?
À medida que a tensão nervosa de Joel aumentava, o estresse
era refletido em seu já exaurido e machucado corpo, as dores de seus ferimentos
aumentavam, ele sentia dores no estômago e em todas as partes de seu corpo, até
que começou a sentir pressão na cabeça.
-Eu... Eu nunca devia ter feito isso! Olha só pra mim! Meu
Deus do céu! O que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz? Tomas! Cara! Por
Favor! – Ele agarrou Tomas pela camisa enquanto babava sangue e liberava
lágrimas. O suor escorria pelo seu rosto.
-Por favor, cara! Você tem que proteger a minha família! O
Albert Einstein Junior vai descobrir e vai vir atrás de mim! Vai vir atrás da
mamãe e do papai e vai matar todo mundo vai... vai ficar muito ruim, puta
cara... cê tem que me ajudar...
Tomas permaneceu sério e baixou a cabeça.
-Por favor, cara. Por favor! Você... Cê não vai falar? Cê
vai ficar quieto? Seu... Seu filho de uma...
Joel é impedido de falar por um soco vindo de Tomas.
-Não me resta nada... Não me resta nada... – Falou Joel, lacrimejando.
-Pode até não te restar nada, mas você matou o homem que
causava medo na população dessa porcaria de cidade, e você salvou a vida de uma
mulher que não tinha nada a ver com uma guerra entre um bando de covardes! Você
também salvou a vida de uma senhora com esquizofrenia por que você salvou a
vida do filho dela, que era o único sujeito que podia dar o remédio dela, mesmo
que este tenha sido um criminoso por grande parte da sua vida, você também
salvou a vida de dois traficantes mesmo que eles não
merecessem e recuperou a
mercadoria roubada de uma loja... e você salvou a minha vida! Então... É... Não
te resta nada, você tá numa situação bem ruim...
Ele parou por um instante.
-Mas se você parar agora, eu juro que vou virar as costas e
não vou mais te ajudar! Por que o que você fez pode parecer pouco pra você, mas
para aqueles que você ajudou representa uma vida inteira, por que foi
exatamente isso que você salvou!
Joel encostou a cabeça no travesseiro, sua expressão ainda
estava perturbada, Suas lágrimas corriam pelo seu rosto, seus olhos fecharam-se
por um instante.
-E então, você vai desistir agora? Agora que você conseguiu
tanta coisa? Vai ou não?
Joel não respondeu.
-Alguém precisa combater o crime em Joanópolis, Joel. E esse
alguém é você! A polícia não resolveu o problema, você resolveu. Você é o herói
que essa cidade precisa.
-Não o que ela merece... Sei... –Terminou Joel, sua
expressão mudava gradativamente.
-Talvez eu não faça isso por querer, mas por uma
necessidade... – Continuou.
-Mas não é a necessidade de combater o crime, é a
necessidade de alimentar o meu ego. Eu sou um fracasso, Tomas...
-Como assim?
-Eu sou um fracasso, tipo... As minhas notas nunca foram
boas, eu ainda não consegui me manter em uma boa faculdade, nunca arranjei um
emprego bom tão pouco uma namorada ou sequer ficar com alguma garota. Eu não
tenho nenhum talento. Eu sou pior que o Peter Parker por que eu não sou bom em
ciências, cara... Eu tô fazendo isso por que eu sei que é a única coisa que
pode trazer emoção à minha vida medíocre.
Tomas pensou por um instante.
-Sabe...
Ele olhou Joel.
-Eu também sou assim, a diferença é que costumo fumar umas
“brisolas” de vez em quando. Sabe to cansado dessa vida de merda que tenho.
Tipo, acho que vou virar o teu oráculo ou coisa parecida.
A conversa entre os dois foi interrompida pela campainha da
casa em que Joel morava.
Tomas foi atendê-la e viu que era a Delegada Jonna Darc, e
apenas mandou que Joel permanecesse quieto.
Joel permaneceu em silêncio, envolveu-se até o pescoço com um cobertor encardido, rezou, acreditava que havia um Deus ao seu lado, que já o havia livrado da morte várias vezes e que poderia salvá-lo novamente de problemas, ele perguntava-se até quando poderia testar a boa vontade desse Deus.
Tomas voltou acompanhado, a Delegada veio com ele.
-Olá Joel.
Joel engoliu em seco, novamente sentiu as dores de seu corpo
latejarem, sentiu uma pressão na nuca, ele acreditava que estava sendo gerada
pela ausência de sangue em seu corpo. A delegada percebeu que ele estava
atônito.
-Fique calmo, rapaz, sei que está sendo difícil para você.
-O... O que? – Perguntou o jovem.
-Seu pai está no hospital, as coisas estão difíceis, sei
disso. Escute, eu venho em nome de todo o distrito que trabalha com o seu pai,
dizer para você que nós estamos sentindo por você, pela sua mãe e pelos seus
dois irmãos, ok?
-O... Obrigado... – Joel fitou Tomas.
-Eu também já passei por maus bocados, meu filho de sete
anos já teve uma arma apontada para sua própria cabeça. E, por incrível que
pareça, o criminoso ainda está à solta e, ah, eu me esqueci de dizer que...
Alguém que ainda não foi identificado matou o sujeito que fez isso com o seu
pai.
Por um momento Joel permaneceu sério, mas alguns segundos
depois tentou esboçar um sorriso visando enganar a Delegada. Talvez uma
expressão de regozijo desse uma impressão mais autêntica de que ele não tinha
nada a ver com o assunto.
-Ele teve o que mereceu, o cretino.
Quase que imediatamente a Delegada se levantou e mandou que
o jovem negro cuidasse dos ferimentos que tinha no rosto, e avisou que seu
nariz parecia inchado e que ela “manteria contato” Joel não sabia se ela
suspeitava ou se já haviam pego amostras de seu dna no corpo de Albert
Einstein, ela parecia não se importar por hora.
---
Quando Rafael acordou ele viu sua mão envolta por
esparadrapos, com uma agulha enfiada em sua mão direita, sentia uma dor
tremenda, pois o soro que havia sido injetado em sua veia havia acabado e sua
veia estava prestes a estourar, não havia sinal de enfermeiros, mas havia
outros pacientes em macas próximas à dele. Alguns gemiam de dor, outros tinham
ferimentos ou tumores expostos, ele sentia um cheiro pútrido de coisas que ele
não gostaria de imaginar o que fossem. Parecia ter acordado de um sonho para um
pesadelo, mas não. Ele simplesmente estava em um hospital público.
Não demorou muito para que uma enfermeira morena e levemente
atraente e chamasse pelo seu nome. Ela trocou o pacote com o soro e falou:
-Isso é para você ficar calmo.
Rafael tentou movimentar-se mas parecia que seu corpo não
respondia mais da maneira que costumava, parecia ter dificuldade para mover as
pernas, pensou no pior e indagou à mulher. Ela respondeu:
-O médico vai dizer o seu diagnóstico.
-Como é? Eu nem sei o que aconteceu! Eu...
-Fique calmo, se você ficar nervoso as coisas só vão piorar.
Ela saiu e deixou o homem lá, acompanhado pelos demais
pacientes, porém completamente só, isolado do mundo, petrificado.
Algumas horas depois Rafael recebeu a notícia de que ele havia levado uma lesão que havia afetado seu sistema nervoso e que ele
havia perdido o movimento das pernas. A partir de agora apenas a ajuda de
fisioterapia iriam ajuda-lo.
Ele lembrou-se de tudo o que havia acontecido alguns dias
atrás e lembrou de quando um homem mascarado o havia baleado, ele também se
lembrou da vida que ele próprio levava, era um traficante e provavelmente
sairia do hospital para a cadeia. A sina de um criminoso era ser abandonado por
Deus e pela sociedade, e Rafael a havia sofrido antes de completar dezenove
anos de idade.
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Dia 3 de Janeiro de 2013.
Era dia de Prova de Recuperação no colégio Genival de
Freitas em Sampa, Joel já havia se recuperado de alguns de seus ferimentos,
ainda sentia dor nas costelas, mas ele não poderia deixar de perder a
oportunidade de lidar com Albert Einstein Junior novamente. Ele sabia que o
sujeito estaria na escola e pretendia encontra-lo, nem que fosse para
monitorá-lo.
O colégio estava vazio, havia poucos alunos, já que a escola
estava em época de férias para a maior parte dos que estudaram, a verdade era
que grande parte dos alunos que não passavam de ano no colégio público Geníval
de Freitas eram em sua maior parte criminosos, sendo que a maior parte dos
alunos eram moradores de vilas pobres como Joanópolis. Aqueles que não se
dedicavam aos estudos eram os que praticamente mandavam na escola, não se
importavam com suas notas, pois o que importava era que iriam terminar passando
de ano de qualquer maneira, graças a ameaças vindas de seus pais ou deles
próprios, já que alguns poderiam invadir a escola e fazer os professores e
diretores de reféns a qualquer instante. E a verdade era que o corpo docente os
deixava passar mesmo sem ameaças de qualquer maneira.
Joel, mesmo tendo dezenove anos, ainda estava no primeiro
ano do segundo grau, e não dava a mínima para tanto, seu estímulo para estuda
já havia há muito sido abandonado. Agora a única coisa que ele possuía era o
gosto pela leitura de revistas em quadrinhos, e por alguns livros de ficção ou
de história em geral, ele falava e escrevia perfeitamente bem para um jovem de
sua idade, com o nível de ensino que possuía, e com o nível de renda que seu
pai recebia com o emprego que possuía no distrito policial. Mas em uma
determinada época de sua vida, perdeu o gosto pelos estudos e decidiu render-se
ao seu vício em gibis.
Joel não olhava para as garotas e elas não olhavam para ele
e para ele as coisas pareciam ser normais assim.
Ele decidiu permanecer sentado a sós em um dos bancos
enferrujados enquanto alguns adolescentes de treze e quatorze anos de idade
(todos pareciam ser maiores e mais velhos que ele.) faziam algazarra entre si
visando chamar a atenção de sabe-se lá quem. Quando viu Rafael chegando de
cadeira de rodas, ao seu lado vinha Estevão, o outro traficante de algumas
noites atrás.
Joel já suspeitava que alguma hora presenciaria aquela cena,
ele havia baleado Rafael algumas noites atrás, agora estava arcando com as
consequências. E Rafael, o sujeito negro, careca, outrora muscular e altivo,
agora parecia mais franzino, estava cabisbaixo, seu olhar distante. Estevão, o
sujeito pardo, com o cabelo encostando-se ao ombro, magro, alto, sempre
vestindo casacos pesados, e a temperatura esta propícia neste dia.
Eles notaram Joel, porém, propositalmente o ignoraram. Os
poucos alunos que estavam presentes no local, juntaram-se ao redor de ambos,
todos, garotos e garotas, faziam condescendências e palavras sentimentais aos
dois. Joel perguntou-se se haveria tanto afeto assim caso algo parecido
acontecesse com ele. Mas o que mais o preocupava era se Estevão revelaria sua
identidade ao mundo.
O fato de Joel agora ter sido abençoado com os poderes de um
grande herói, ou pelo menos com a coragem de um. Lembrou-o de alguns anos atrás
quando estava entrando na adolescência, ele lembrou-se que Rafael e Estevão
fizeram parte dela e eles costumeiramente o defendiam contra garotos maiores e
mais fortes que gostavam de agredi-lo sem motivo nenhum.
Joel sempre fora aquele pivete negro com cabelo meio afro,
óculos fundo de garrafa, que se vestia com suspensórios e calça colada. Joel
vivia fingindo estar em mundos de fantasia, onde ele era um grande herói que
salvava garotas indefesas, mesmo que aqueles que andavam acompanhados de belas
garotas fossem outros. E isso era estranho para os demais, que tinham outros
interesses em mente, e por consequência gostavam de atormentá-lo por disso, dizendo que ele era um maluco que
nunca deveria sair de casa.
Alguns decidiam praticar violência física em Joel. Rafael e
Estevão o protegiam, não por que gostavam de andar com ele, mas por que ele
parecia patético demais e queriam provar para suas próprias garotas que
poderiam defender um garoto que era visivelmente perturbado.
Suas memórias foram interrompidas por um som abrupto de um
portão de aço se abrindo. Era albert Einstein Junior e seus comparsas Marrom,
Têjota e Branquelo, que haviam entrado no colégio.
O sistema de segurança do colégio não era devidamente
eficaz, portanto eles andaram livremente.
Eles foram até Rafael e Estevão, o grupo de alunos que
estava ao redor de ambos logo se esvaiu.
Junior fez questão de jogar Rafael no chão, mas seu
verdadeiro alvo era Estevão.
-Eu vou acabar com você! – Gritou ao pardo cabeludo.
Junior socou Estevão fazendo com que o sangue deste
espirrasse para longe.
Sem nenhuma arma em mãos Junior não foi capaz de matar
estevão na hora, mas conseguiu feri-lo com alguns socos em seu estômago. Este
apenas recebia os golpes e não revidava.
Foi quando Joel decidiu intervir. Ele correu e empurrou
Junior com todas as forças. Marrom, Branquelo e Têjota entraram na briga.
Joel socou Junior na cara antes que fosse agarrado por
Marrom e Branquelo.
Joel decidiu dar uma cotovelada em Marrom, este caiu ao
chão.
-Não pode ser! De novo não! – Gritou Junior, olhando para
Joel.
Foi quando Joel finalmente notou o erro que estava cometendo,
ele estava revelando sua identidade ao adversário.
-O que você tá fazendo, seu pivete? Você quer morrer, nerd?
– Gritou Marrom, sentindo a dor no estômago.
Joel deixou-se levar pelos golpes de Junior e dos demais.
Eles quebraram seus óculos, socaram seu rosto, arrancaram sangue de sua boca,
abriram ferimentos em seus braços, pernas e barriga. Suas costelas e seus
órgãos internos doeram mais do que nunca.
Vários professores e seguranças do colégio haviam sido
acionados, eles atacaram Junior e os demais, porém os quatro conseguiram
escapar e fugiram pelo mesmo portão que abriram.
---
Joel perdeu a consciência. Quando deu-se por si ele viu o
rosto dócil de sua mãe, mas não era uma expressão de contentamento.
-O que foi que aconteceu, meu Deus do céu?
A mãe de Joel, Edileuza, uma mulher negra, moderadamente
magra, possuía o cabelo estilo “channel” encostando-se à nuca, usando um
vestido. Ela era devidamente super protetora com os filhos, já que não poderia
sê-lo com seu próprio marido, ela descontava sua maior insegurança nos filhos.
E talvez fosse por isso que Joel fosse um jovem tão fechado quanto a
relacionamentos com pessoas da idade dele, mas ela não parecia se importar, o
que mais importava para ela era a segurança dos filhos.
-Você só pode ter enlouquecido! Eu já tenho que lidar com o
seu pai todo machucado no hospital e agora tenho de lidar com você se
envolvendo com brigas na escola, meu filho do céu! Você já tem dezenove anos!
Você não tem idade para andar por aí se envolvendo em brigas, o que você tem na
cabeça, Joel?
Joel fitou o rosto de sua irmã, Miriam, que apenas ouvia
tudo com expressão de quem concordava. Uma garota de vinte e cinco anos de
idade, pele escura, cabelo com progressiva preso para trás, usando camiseta azul e
calça jeans, ela importava-se demasiadamente para uma irmã mais velha, estava
sempre preocupada com o que o irmão caçula fazia ou deixava de fazer, sempre
tentava, com o pouco dinheiro que possuía, dar-lhe presentes em seu
aniversário, e o que conseguia eram revistas em quadrinhos de super-heróis
velhas que ela comprava em sebos já que as das bancas estavam começando a ficar
demasiadamente caras, para Joel isso era mais que o suficiente. Vê-lo em uma
situação como essa era devastador para ela.
-Onde... Onde é que eu estou?
-Na enfermaria do colégio. Nós estamos indo para casa no
carro do seu irmão, ele está esperando a gente lá fora. – Falou Edileuza.
-Bom, então vamos...
-Que nada! Antes você vai me explicar o que aconteceu para
você estar neste estado!
-Eles... Eram muitos... Não deu pra vencer todos.
-Meu Deus do céu, Joel, por que você não toma juízo da
próxima vez? Eu conversei com o diretor da escola e ele me disse que você
defendeu um colega seu de um valentão, foi isso?
-Dizem que o “valentão” escapou. – Falou Miriam.
-Ele é... Ele é traficante...- Falou Joel.
-Ele é traficante? – Edileuza pareceu surpresa.
-Mãe, essa escola é o diabo... Ela é cheia desses
bandidinhos que fazem o que querem. Eu ouvi um dos moleques que estavam na
briga e ele disse que o cara que bateu no Joel anda armado pra lá e pra cá. –
Miriam tentou intrometer-se na estória.
-Pois eu vou tirar esse garoto dessa escola imediatamente!
-Eu acho justo, lembra de quando eu estudei aqui e o quão
difícil era lidar com as pessoas por que todo mundo vivia fazendo ameaças?
-Joel, você não tá se
envolvendo com esse tipo de coisa, tá?
-Claro que não, mãe! A minha vida é ler gibis!
É claro que Joel não se envolvia com drogas ou com armas,
mas ele obviamente iria enfiar a cara no submundo de Joanópolis uma hora ou
outra. Por que essa era a sua sina, esse era o seu destino e era isso que ele
gostava.
---
Quando Creepy conseguiu um emprego, que todos diziam ser uma atividade criminosa (mas para ele era apenas um “apoio aos necessitados”.) Como vendedor de drogas em uma casinha que ele chamava de lar, Que ficava em
uma área isolada em um matagal em um dos morros de Joanópolis, Creepy conseguiu
status e respeito entre vários membros da comunidade Punk, ele até mesmo conseguiu
contrato com uma gravadora que prometeu gravar-lhe um álbum com as músicas que ele
e sua banda fizeram. Creepy criou um espaço em sua “casinha” onde vários
adeptos do movimento punk, iam para consumir um pouco de ácido e ouvir as
músicas que ele e seus amigos, membros de sua banda, tocavam. É óbvio que
eles também tocavam "covers" de outras bandas como Rancid e Ramones.
A “casinha” de Creepy era um lugar interessante: Varias pessoas iam por vários motivos. Para fazer sexo dentro dos banheiros, consumir drogas lobotomizantes e ouvir música pesada, até o
fatídico dia em que Creepy descobriu que seu fornecedor havia sido morto pelas
mãos de um vigilante sanguinário. E que agora quem iria assumir o poder era seu
filho, um sujeito conhecido como Albert Einstein Junior.
Certo dia, Junior bate à porta da “casinha” no meio do nada
de Creepy. Este decide atende-la, já que Creepy sabe que Junior está apenas
trazendo mais um carregamento de algumas drogas interessantes como LSD ou a
famosa Rock’n’Rolla, Uma de suas preferidas.
Porém, Creepy é recebido com um tiro na testa, um alvoroço
toma conta do local, várias pessoas saem correndo assustadas, várias outras são
baleadas por tentarem reagir.
Creepy é morto por que além de ser um péssimo vendedor de
drogas, também consumia a mercadoria, e isso era inaceitável para Junior.
Quem assume o lugar de Creepy é Branquelo, ele agora é
responsável pelo tráfico de LSD e outras drogas alucinógenas.
Branquelo toma posse de algumas armas adquiridas com os
“punks” que haviam reagido e Marrom consegue algumas facas com outros, ele não
poderia estar mais feliz. Junior e Têjota continuam com suas próprias pistolas.
---
Juninho é o que poderiam chamar de baixinho invocado. Aos 14
anos, ele já matou, já roubou, já estuprou. Mas também já levou tiro, já foi
roubado e até estuprado.
E graças a esses quatro reveses ele passa seus dias na Terra
olhando as pessoas com cara de poucos amigos e atirando nelas pelos pés para
assustá-las com sua colt e fazê-las submeterem-se à sua cruel vontade.
Desde criança, ou seja, há alguns meses atrás, Juninho foi
abusado pelo pai, estuprado pelo tio, apanhou do avô, roubado pelas tias e
ignorado pela avó.
A única pessoa que lhe dava afeto era sua mãe. Ah, a mãe de
Juninho, grande e nobre rainha, sempre disposta a fazer de tudo para ele,
sempre ali para apoiá-lo, sempre dando tudo do melhor para ele.
É uma pena que há um ano um traficante estava vendendo
drogas para seu irmão mais velho e este, como não pagou, virou alvo, e quando o
traficante foi acertá-lo com uma metralhadora, acabou acertando a mãe de
Juninho. E lá se foi, em um banho de sangue, a mamãe do Juninho.
Juninho chorou pela primeira vez feito um bebê, coisa que
ele quase é. Então ele juntou um grupo de amigos, que não faziam nada além de
vandalismo, roubou uma Colt do seu avô e tentou matar o traficante. A primeira
vez não deu certo por que, como ele estava com apenas uma arma e, subiu num
prédio, mirou no traficante e nos seus comparsas que estavam saindo de uma
joalheria, local onde o traficante estava dando um presente para sua namorada
grávida, e ele acabou acertando a namorada.
Na segunda vez ele conseguiu roubar uma segunda arma, do pai
dele, uma espingarda para caçar passarinhos. E não deu certo por que a bala da
espingarda não era letal e deixou o traficante aleijado. As balas da Colt
apenas acertaram os homens do traficante.
Mas na terceira vez, como o traficante estava todo machucado
e seus comparsas estavam sem apoio moral ele conseguiu matar o traficante a
facadas enquanto este dormia um sono profundo durante à noite em seu
esconderijo.
E assim o esconderijo do traficante virou o esconderijo do Juninho!
E os homens do traficante viraram os homens do Juninho! E as pessoas que tinham
medo do traficante agora têm medo do Juninho! E o fornecedor do traficante
virou o fornecedor do Juninho!
E assim Juninho começou a vender drogas como Cocaína e ai de
quem não pagasse!
Mas o fornecedor de Juninho morreu! E Todos disseram que foi
um homem de máscara o autor!
E Juninho já sabia que uma das bocas de fumo aliadas já
havia sido tomada pelo herdeiro de seu fornecedor.
Sendo assim, Juninho
decidiu armar seus homens e preparar-se para um embate contra o tal
“valentão” que queria tomar sua boca de fumo.
O esconderijo de Juninho localizava-se algumas quadras
depois da área em que ficava a boca de fumo de Creepy. Ambos ficavam em uma
área gramada.
Albert Einstein Junior também possuía seus truques na manga.
Ele mandou dois de seus homens (Têjota e Branquelo) atacassem com as pistolas,
que haviam conseguido com os homens de Creepy, por trás do estabelecimento
enquanto o líder e Marrom atacavam pela frente.
O tiroteio deu-se início.
Os homens de Juninho caíam a todo instante, eles eram
baleados e feridos pelos dois que vinham por trás e pelos tiros de Junior que
vinha pela frente, Marrom parecia permanecer imóvel.
Junior conseguia mirar e acertar cada um dos soldados do
adversário com maestria, era quase impossível tirasse a cabeça de sua proteção
sem ser baleado em pontos vitais.
Um dos homens de Juninho levantou-se de uma pilha de pneus
jogados, com uma metralhadora, começou a atirar na direção de Têjota e Branquelo.
Junior segurou uma pistola estilo Taurus 40, fechou um dos olhos e mirou na
cabeça do adversário. A bala saiu de dentro do cano da pistola, passou riscando
o ar e entrou no crânio do sujeito espirrando sangue por todos os lados.
Ao ver aquilo e a si mesmo sem chances de escapar, Juninho
decidiu render-se. E ele o fez de maneira humilhante, ajoelhando-se e pedindo
perdão!
Mas é claro que o Junior mais velho não iria deixar barato,
chamou um sujeito que não batia bem da cabeça, Marrom, que até o momento estava
quieto, este pulou em cima do Juninho e matou-o a facadas, da mesma maneira que
este havia matado o assassino de sua mãe. E o ciclo havia se cumprido.
Marrom tomou o lugar de Juninho, os homens de Juninho, que
sobreviveram viraram os homens de Marrom, e Juninho morreu por que ele era um
tremendo de um filho da puta!
---
Jonas Fernando, mais conhecido como Maguila Jr. Foi um
grande boxeador de Joanópolis, ele havia vencido os campeonatos regionais com
esforço e dedicação. Todas as academias de Joanópolis o queriam como seu
“garoto propaganda’.
O que muitos não sabiam era que Jonas utilizava drogas para
melhorar o desempenho em seus treinos, drogas que ele havia conseguido com alguns
traficantes amigos seus em regiões mais altas em Joanópolis.
Os anabolizantes que Jonas comprava permitiam não apenas que
sua energia e disposição aumentassem, mas também aumentavam e davam mais
consistência à sua musculatura.
O local onde ele comprava era um loja de suplementos
clandestina localizada na região campestre de Joanópolis, um local gramado com
apenas colinas, próxima de uma casa de shows e de um depósito abandonado, havia
boatos de que ambos fossem bocas de fumo.
O sujeito que lhe vendia os anabolizantes era um amigo de
infância seu, seu nome era Jean.
A vida era uma maravilha para Jonas até que um dia seus
truques foram descobertos e sua carreira desmoronou ante seus olhos.
Ao invés de tentar viver a vida honestamente, Jonas, como o
sujeito que tentava sempre viver a vida por caminhos mais fáceis, foi tentar
ingressar no tráfico de drogas, e associou-se a seu amigo Jean. Jonas possuía
conhecimentos sobre a droga que quase ninguém possuía, ele era um especialista
no assunto, sabia de tudo, seus benefícios e malefícios e ganhava bem por isso.
A vida novamente ia bem para o grande Maguila Jr. e seu
amigo Jean até o dia em que traficantes de narcóticos da região decidiram
iniciar negociações com Jean por baixo dos panos. Jean agora comercializava
alguns narcóticos em sua loja, as pessoas não pediam mais “a droga” esperando
por algo que fosse aperfeiçoar seu desempenho nos esportes, mas sim por algo
que fosse deixar seu cérebro entorpecido.
A maneira que Jonas descobriu isso foi a mais dolorosa possível.
Jean começou a consumir os narcóticos, a venda de anabolizantes começou a
decair pelo péssimo desempenho que ele demonstrava graças ao consumo de outras
drogas e ele não pôde mais pagar o fornecimento dos entorpecentes, sendo assim
acabou sendo morto por uma rajada de metralhadora vinda dos traficantes.
Jonas enlouqueceu, não os levou às autoridades por medo de
ser pego por ele próprio ser vendedor de drogas ilícitas, mas fez justiça com
as próprias mãos. Conseguiu duas AR-15 com um fornecedor de armas local e
atacou o esconderijo dos meliantes. Matou sete homens sozinho e tomou posse de
sua boca de fumo.
O Grande Maguila Jr. Poderia ter abandonado tudo e ido viver
uma vida normal, mas ele queria mais. Sua vida não estava completa até que
estivesse completamente destruída.
Jonas pegou todo o material que os traficantes possuíam e o
levou até sua loja de suplementos.
O local agora havia se tornado um ponto de vendas de drogas
de todos os tipos. Quem entrasse pelas portas dos fundos poderia se saciar com
todo tipo delas.
Mas havia um porém, alguns anos depois o fornecedor havia
sido morto por um justiceiro. Jonas não se surpreendeu, já que ele próprio era
um.
O problema foi seu herdeiro, cujo qual estava tomando posse
das bocas de fumo da região e matando seus líderes.
No dia em que soube da investida de Albert Einstein Junior
ele foi para sua loja, trancou tudo e esperou pelo pior.
Quando chegaram, eles já eram numerosos. A gangue de Junior
crescia a cada dia que passava, seus homens, cada vez mais armados e preparados
para assassinar qualquer um que entrasse em seu caminho. Eles cercaram a loja e
começaram a bater na vitrine com as coronhas de suas armas. Os vidros começaram
a rachar até que estiveram completamente quebrados.
Eles entraram e começaram a metralhar qualquer um que
aparecesse à sua frente.
-Eu quero o Maguila Jr. Me dêem o Maguila Jr.! – Gritava
Albert Einstein Junior.
Os soldados de Jonas revidaram e foram atingidos, um a um,
pelos “pipocos” vindos das pistolas de Junior. Que agora eram estilo Sig Sauer
P229, cada um era friamente atingido na cabeça.
Um dos homens de Maguila, negro, sem camisa, extremamente
magro, com uma bermuda jeans detentora de correntes e demais apetrechos foi
mais corajoso e decidiu usar uma espingarda e ferir alguns homens de Junior,
ele abateu alguns dos adversários até que recebeu uma bala vinda do próprio
Junior. Quando seus comparsas viram seu cadáver, eles notaram que ele havia
sido atingido diretamente no olho esquerdo.
Quando Maguila foi cercado, ele foi desarmado.
-Você vai agir feito um covarde, guri? Vai me matar dessa
maneira? – Falou altivo, era um sujeito mulato, grande, careca. Junior era
pequeno, magro e cabeludo comparado a ele.
Junior não demorou um segundo até que ordenasse que
atirassem no gorila, e o entupissem de balas. Em menos de cinco segundos, este
estava no chão, todo ensanguentado.
Maguila Jr. havia morrido por que era um sujeito grande
demais, caso resolvesse rebelar-se contra Albert Junior e os demais, poderia
causar problemas caso algum de seus homens estivesse desarmado. Junior pensava
isso em sua mente doentia e meticulosa.
Quem assumiu o lugar de Maguila foi Têjota.
---
---
Dia 4 de Janeiro de 2013.
Ontem havia sido o dia de levar uma surra de meliantes como
o pobre e indefeso Joel de Aparecida, mas hoje era o grande dia de sair por aí
e combater o crime como Rider!
O momento finalmente havia chegado! Joel iria novamente
vestir a roupa de Rider e fazer uma ronda pelas ruas da cidade! Ele estava devidamente recuperado dos
ferimentos que havia sofrido nos dias anteriores, pelo menos o suficiente para
sobreviver a mais um espancamento, caso sofresse-o.
Ele tinha créditos em seu celular, pois em qualquer
emergência, poderia ligar para seu fiel escudeiro Tomas e possuía novas e
misteriosas bugigangas que estavam prontas para serem utilizadas em criminosos!
Ele vestiu o uniforme. O boné, máscara, luvas de motoqueiro
e casaco verdes, a calça jeans azul encardida com cinto preso, a camiseta
branca com o sol estampado no peito, o par de tênis amarelos, e as proteções
para os cotovelos e para os joelhos. Desceu o morro de bicicleta, sentiu o
vento batendo sob seu rosto mascarado, a
emoção de pedalar a toda velocidade era algo impagável fosse super-herói ou
não.
Rider cruzou uma esquina, duas, sentiu uma brisa leve
refrescar seu rosto, o dia estava levemente frio graças a nuvens no céu, mas
ainda estava longe do frio invernal de junho.
Depois de algumas horas rondando pela cidade de Sampa, de
olhares desconfiados e curiosos, Rider encontrou aquilo que procurava.
---
Silveira era um dos policiais que mais reclamava de sua
situação no décimo distrito de Joanópolis, ele estava velho e seu salário era
baixo, pois ele ainda estava em uma posição relativamente baixa para o seu
gosto. Ele era um homem devidamente honesto, mas já estava farto de dar “murros
em pontas de facas” em seu trabalho, de se sacrificar e de não receber nada em
troca.
Essa era a vida de um policial como Silveira, ele recebia
pouco, trabalhava como um camelo arriscava sua vida diariamente, estava
devidamente inconformado.
E ainda havia caras como Emir, que nunca haviam na pele o
estresse do dia a dia de uma delegacia como a de Joanópolis. E devido a isso,
andavam como se fossem um bando de intocáveis. Emir mal perdia por esperar,
pois o que ele veria em Joanópolis, seria diferente de qualquer lugar em que
ele esteve.
Ao chegar à delegacia, Silveira conversou com a delegada e
tentou aquilo que tentava ao menos uma
vez por mês: que ela lhe desse uma aposentadoria. Ela encaminhou-o a uma corregedora que poderia resolver o assunto.
-Aqui está dizendo que você tem 26 anos de carreira e que
ainda está no cargo de capitão das forças civis, estou certa, senhor...
Silveira?
-Sim, e eu já tenho mais de 60 anos de idade, o que indica
que eu posso retirar a prévia para a aposentadoria.
Ela fez as analises em seu computador e depois de longos e
tortuosos minutos concluiu:
-Olha, está dizendo aqui que você passou três anos fora do
serviço por causa de uma paralisia na perna direita, que foi adquirida graças
ao fato de que você foi baleado, estou certa? Escute, isso aconteceu durante o
seu tempo de serviço?
Silveira ficou surpreso com a frieza da mulher, ela parecia
ter quarenta anos de idade, cabelos avermelhados e levemente ondulados, óculos
de aros pretos e roupas brancas, seu crachá dizia o nome Silvana.
-Escute... Silvana... Você tem que entender, eu fui baleado
em uma época em que eu não estava prestando serviço, eu estava de férias no interior
de Minas Gerais, na casa de um parente meu, foi quando eu descobri que a filha
de dezessete anos de uma amiga minha foi ameaçada por um pivete com um
revolver, eu, ao ver aquilo pensei que pude reagir, mas não tive sorte, ele me
acertou na perna e assim tive que passar três anos longe do serviço.
É uma história comovente, e fico feliz de saber que já está
recuperado, mas infelizmente eu não posso te dar sua aposentadoria, Silveira,
você não tem o tempo previsto de serviço, você pode estar na polícia há mais de
25 anos, mas o total de tempo que você tem aqui não dá tudo isso. Então eu
infelizmente não posso concedê-lo sua aposentadoria.
-Mas esse tempo que passei fora não pode ser considerado
acidente de trabalho?
-Pois é exatamente o que eu lhe disse, esse acidente não
ocorreu durante seu tempo de trabalho, devido a isso, eu não posso adicioná-lo
ao seu percurso médico aqui no distrito de Joanópolis.
Silveira sentiu raiva.
-Isso não existia há alguns anos atrás.
-São as leis que o governo tem estabelecido recentemente...
-Pois eu acho que você devia ter menos frieza sua... Sua...
– Gritou.
Ele levantou-se e foi embora.
O que Silveira não havia contado à Silvana era que a filha
de sua amiga estava envolvida com drogas e não havia pago o que devia, e que
essa tal “amiga” na verdade era uma namorada que ele possuía em outro estado. E
que ambas poderiam ser levadas à justiça, já que uma sabia que a outra estava
consumindo drogas e que a outra tinha um relacionamento amoroso com um dos
traficantes que ameaçaram e balearam Silveira, pois fora ele quem tivera de
salvá-la quando ela não tinha mais dinheiro para pagá-los, e o amado de sua
“enteada” simplesmente a havia abandonado e a ignorava sem motivo aparente
nenhum.
Silveira agora sentia ódio não apenas daquela mulher que o
havia impedido de conseguir sua aposentadoria, mas das circunstâncias em si,
tudo por causa de uma maldita bala que ele havia recebido na perna, agora não
poderia ter seu merecido descanso, tudo por causa de um bando de pivetes que
ganhavam a vida de maneira desonesta, completamente diferente do estilo de vida
que ele levava. Tudo por causa de uma adolescente como a filha de sua namorada,
que se drogava até não poder mais e de seu amiguinho traficante.
Silveira foi convocado a fazer uma ronda pelas ruas de
Sampa, algumas ruas próximas da Vila Jôanópolis.
A culpa era sempre de todos, todos menos de sua própria
imprudência. Afinal, Silveira era um homem honesto, ele vivia a vida como quem
acreditava no sistema, e como quem sabia que as coisas no final iriam se
encaixar. Mas o governo corrupto em que ele vivia apenas queria que ele
continuasse a trabalhar e a ganhar uma “mixaria”, fazendo leis que nunca
beneficiavam ninguém além dos “poderosos”.
Silveira não tinha outra escolha senão continuar
trabalhando. Ele pegou sua viatura e fez sua ronda diária. Passou por algumas
partes movimentadas da cidade até cruzar partes mais desertas. Foi quando ele
presenciou uma situação inusitada.
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Uma mulher gorda de cabelos castanhos estava andando pela
rua, ela usava roupas caras e uma bolsa luxuosa. Ela passava à frente de um
Cartório Eleitoral Alguns vendedores de pipoca e amendoim e plastificadores de
identidade e carteiras de eleitor observavam-na de longe, ela chamava atenção
por ser uma mulher grande com roupas luxuosas em plena manhã.
Um garoto pardo, de menos de dez anos de idade, a observa
como um predador observa sua caça. Ele olha para a bolsa brilhante e imagina a
quantidade de dinheiro e cartões de crédito ele pode roubar ali. Então, ele se
esconde atrás de arbustos, de árvores, das paredes de alguns prédios,
persegue-a e aguarda o momento de atacar.
Seu nome é Jeremias, ele comeu um pedaço de pão com manteiga
pela manhã, não tomou o leite por que não o tinha. Foi o suficiente para
dar-lhe energia para correr o quanto pudesse em mais uma ronda de seus roubos
que cometia semanalmente em várias regiões de Sampa. Jeremias é um pobre
coitado, mal tem o que comer e está garantindo seu direito como “cidadão
decente na sociedade”.
O dinheiro dos assaltos passados havia acabado em balas,
chocolates, salgadinhos, cigarros (o
garoto já fumava.) portanto, ele precisava de uma nova leva. Estudar, como seu
irmão mais velho fazia, jamais. Isso era coisa de pessoas conhecidas como
otários. Jeremias não era um deles. Sua mãe, que havia se separado do pai (ele
havia morrido em um tiroteio entre traficantes em Joanópolis alguns anos depois
de Jeremias nascer) mal suspeitava que o garoto conseguisse dinheiro com roubos
de carteiras e achava que ele estava na escola há essas horas.
Enquanto isso, Jeremias garantia seu futuro. Se ele
consistia em ir para o túmulo cedo demais ou não, isso ainda era incerto.
No exato segundo em que a mulher vira a esquina é a hora em
que o garoto corre com todas as suas forças e, passando como um jato, arranca a
bolsa da mulher, atravessa a rua e some, correndo tão rápido quanto um guepardo
atrás de sua presa, os carros dão partida e sua perseguição se torna
impossível.
Tudo o que a mulher faz é gritar desesperadamente, após
alguns minutos ela vê uma figura vestida de verde e azul, montada em uma
bicicleta, passar rasgando o ar por ela, ele desvia dos carros com maestria.
Rider pedalava com velocidade, andar de bicicleta sempre foi
um grande prazer para ele, e agora ele poderia combinar duas coisas que gostava
em uma.
Ao alcançar Jeremias, Rider dá um chute no garoto, fazendo-o
cair ao chão, que se abre e despeja tudo o que tem dentro para fora. Várias pessoas
começaram a olhar para aquilo, algumas começaram a tirar fotos com celulares,
parecia que pela primeira vez, Rider estava sendo visto em público. Ele agarrou
o guri pelo colarinho.
-Nove horas da manhã, é hora de menino estar na escola.
Rider tentou dar uma entrada triunfal, mas para a sua
surpresa, várias pessoas o olharam com reprovação, algumas pegavam as coisas
que haviam na bolsa da mulher, para roubá-las em segredo ou para devolvê-las.
-Solta ele, garoto.
Rider virou-se para ver um policial gordo de bigode, com os
cabelos parcialmente calvos, parecia ter sessenta anos de idade, ele apontava
uma arma ao justiceiro.
-Meu Deus do céu! As Minhas coisas! Pegaram as Minhas
coisas! A mulher gorda vinha correndo, balançando as “banhas’. – Ah, que bom
que tem um policial aqui! Pode prender esses dois bandidos!
-Peraí dona, eu to ajudando a prender ele! – Falou Rider.
-É a sua palavra contra a dela, e aí, o que vai ser meu
jovem? – Falou o policial.
Rider esperou que alguém
em meio ao grupo de pessoas crescente fosse se manifestar, ninguém falou
nada.
-Ah, meu Deus, olha o que fizeram com as minhas coisas!
Esses moleques de rua que ficam brigando entre si! Olha o que fizeram! Graças a
essas brigas alguém pegou minha carteira com todos os meus cartões de crédito e
com todo o dinheiro! Pode prender os dois, policial!
Joel soltou Jeremias e ameaçou montar na bicicleta.
-Acho que não, meu filho, se você não se defender eu vou ter
que prendê-lo, então fale alguma coisa ou terei que leva-lo pro distrito, ou,
se você montar nessa bicicleta, terei de abrir fogo contra você!
-Calma policial, eu vi o que aconteceu, esse nobre rapaz
estava ajudando essa senhora, foi ele quem interceptou o garoto, que roubou a
bolsa dela. - Uma senhora negra apareceu e começou a defender Rider.
-Isso é verdade? – O policial se virou à senhora gorda.
-Bem, foi o pequeno que me roubou, o outro só apareceu
depois!
Várias pessoas em meio ao grupo que servia de plateia
começaram a concordar com a senhora negra que apareceu do nada para resgatar
Rider.
O policial permaneceu em silêncio por algum tempo, ponderou.
E falou:
-Eu vou leva-lo.
Silveira já suspeitava que o jovem que estava à sua frente
era o sujeito de máscara que havia ajudado a prender alguns assaltantes de um
posto no dia 30, pegou as algemas em seu carro e falou que levaria Rider e Jeremias.
Porém, a senhora negra começou a protestar, disse que era
uma injustiça e se colocou à frente de Rider, algumas pessoas começaram a fazer
o mesmo, rapaz havia impedido um assalto e isso, pelo visto estava começando a
soar como algo magnífico na mente da multidão presente ali.
Foi o suficiente para Rider pegar sua bicicleta e sair pedalando sorrateiramente, sem que Silveira percebesse. Quando este percebeu, já era
tarde demais.
-Ei! Volta aqui! – Silveira tentou ir atrás de Rider, mas
foi impossível acha-lo, ele já tinha retirado a máscara, o uniforme e se
misturado à multidão.
Silveira jurou que pegaria Rider uma hora ou outra, ele já
havia identificado que havia um sujeito andando por aí parando assaltos, e ver
aquele moleque negro de máscara era a prova de que os assaltantes do dia 30
estavam falando a verdade.
---
Elisandra sentiu-se orgulhosa de seu feitio do dia, ela
conseguiu salvar o jovem que havia salvado sua vida algumas noites atrás, ela
sorria para si mesma, quando cruzou uma esquina, encontrou-se com ninguém menos
que ele, o próprio vigilante. Lá estava ele, parado À sua frente, vestindo o
casaco, as calças jeans encardidas, as proteções nos joelhos e nos cotovelos, a
máscara, o boné, luvas e o tênis.
-Mas que mundo pequeno é esse, não é, senhor Rider?
-Olá, senhora.
Ela o convidou para tomar um café em sua casa, e ele
aceitou. Deixou sua bicicleta, à frente do apartamento da senhora, adentrou sua
casa, sentou à sua mesa e comeu bolachas de água e sal com requeijão, pão com
mussarela fatiada e tomou leite com uma colher de achocolatado em pó. Fez tudo
isso sem tirar a máscara, já que essa não cobria sua boca, nem seu nariz.
Rider se perguntava se Elisandra sabia do paradeiro da morte
de seu marido e o quanto ela poderia saber a respeito do suspeito.
-Você não é muito de conversar. – Falou ela, depois de certo
silêncio.
-A senhora é mãe do Albert Junior, não é? Tem alguma coisa
que possa me falar a respeito dele? – Ele tentou iniciar um assunto, como se
fosse um policial.
-Ele... Ele é um bom garoto... – Ela olhou para uma foto de
Junior com ao menos dezessete anos no criado mudo. Ele parecia ser o tipo de
rapaz que andava sempre acompanhado de vários amigos, A foto ao menos o
mostrava à beira de uma piscina com vários garotos e garotas de sua idade.
-Eu fiquei sabendo que ele e o seu bando já mataram mais de
vinte pessoas, isso é devastador para uma mãe. Mas, isso é tudo o que eu sei...
É tudo o que me contaram... E quando me contaram, o fizeram para me chocar e
conseguiram.
-Eu... Sinto muito. – Falou Rider.
Ela permaneceu em silêncio, ponderou por alguns instantes,
até que finalmente disse:
-Por que você fez... O que fez? Salvou a minha vida?
-Por que eu não tinha nada melhor para fazer naquela noite e
por que... Eu sou um super-herói...
-Você é o que? – Ela se mostrou confusa
Ele sorriu – Um Super-Herói. Sou um justiceiro, eu levo as
pessoas À justiça por conta própria. Por isso eu uso uma máscara.
-Bom... Eu só espero que Deus te ampare, filho... –Elisandra
achou aquilo muito estranho, apesar de sentir-se grata por existir um sujeito
como Rider.
-Obrigado, senhora, eu vou indo.
Antes de partir, Rider sentiu a mão de Elisandra segurar à
sua.
-Eu não sei se me sinto grata por Alberto ter morrido ou se
sinto pena dele. Talvez tenha sido para o melhor que ele morresse... Mas ele
poderia mudar... Poderia melhorar...Talvez seja pretensão minha, sinto um
alívio muito grande, mas também sinto que ele poderia melhorar, aprender com a
vida e se tornar um homem bom. Eu só espero que nosso filho não termine da
mesma maneira.
-Eu... –A Expressão de Rider mudou. Ele sentiu tristeza.
-Obrigado pelo lanche, senhora.
E foi-se embora.
---
No apartamento de Cabeça de Azeitona moravam duas pessoas,
ele e sua esposa. Quando a esposa chegou em casa, de uma audição a uma feira de
artes, ela viu o local vazio e perguntou-se se seu marido havia morrido no
tiroteio que havia presenciado há duas noites atrás, ligava em seu celular e
este dava sinal de ocupado.
Ela não sabia o que fazer, se entrava em desespero, se contava
o que sabia a seus parentes para que eles soubessem e entregassem Washington
Evandro Silva, um dos maiores líderes da facção criminosa conhecida como Homens
do Morro, às autoridades, porém, não desejava perder o homem que a havia
garantido tantos confortos durante tanto tempo em sua vida. Mas afinal de
contas, esses confortos haviam sido adquiridos de maneira ilegal e desonesta.
Ela queria mesmo viver com alguém assim?
Ela se deitou na cama do luxuoso quarto que dividia com seu
marido. Decidiu olhar algumas fotos de seu casamento com Washington, via os
momentos de felicidade e regozijo com ele, quando ouviu um estrondo na entrada
do apartamento.
Era o próprio Washington, que entrava no apartamento com
violência, por ser um homem grande ele fazia mais barulho que um gorila
raivoso, e com raiva ele estava.
-Olívia, eu não tenho tempo para discutir, onde está a arma
que eu falei que havia adquirido para proteger o apartamento caso algum bandido
o adentrasse?
-Está no cofre.
Ele abriu o cofre, retirou uma pistola estilo PT Taurus, carregou-a com a munição que havia
guardada no cofre.
Enquanto Olivia observava aquela cena, seu corpo estremecia
em um misto de medo, dúvida e raiva.
-
O que você vai fazer?
Washington permaneceu em silêncio e continuou vendo alguns papéis
que possuía guardados no cofre, provavelmente
mostrando o endereço de algum contato ou contatos com algum advogado.
-Você não vai me responder?
Quando ela desistiu de chamar pela atenção do
homenzarrão que parecia estar omisso à
sua existência, falou:
-Eu vou delatá-lo para os meus pais, você sabe que eles não
hesitarão em revela-lo para a polícia.
Foi quando Washington percebeu que a mulher a qual ele dava
as costas tinha um poder muito maior sobre ele do que ele imaginava.
-Olívia...
Ele virou-se para ela.
-Você não vai fazer isso... Eu sei que não fará... Eu entrei
em desespero por pensar que você me delataria por saber que seria “a coisa
certa.” Pensei em te implorar para não me delatar. Mas se você me revelar, vai
perder tudo o que eu sempre te dei. Vai perder todo o conforto e todas as
coisas boas que eu te dei.
Ele parou por um instante, ajeitou o terno preto que vestia,
estava sujo, repleto de barro e sangue. Olivia sentia ojerizas ao olhar seu
homem naquela situação.
-Eu tenho um poder sobre você muito maior do que o que você
tem sobre mim.
E partiu em busca do vigilante que o havia humilhado há algumas
noites atrás, ele não descansaria até que o pivete estivesse morto.
Quanto a Olivia, ela permaneceu em silêncio, seu dilema
havia se intensificado.
Olivia era morena, quase negra. Havia nascido e crescido em
um bairro moderadamente pobre, tudo o que tinha fora Washington que havia lhe
dado, seu emprego como artista plástica não era nada comparado ao que o crime
organizado fornecera a ela. Ela era a esposa de um líder, talvez o mais
eficiente deles. Um homem que possuía um nível de auto importância tão grande
que se considerava digno de violar a lei, e se safava com isso. Era um homem
que dava mais importância a si mesmo e ao seu bem estar do que a qualquer coisa
neste mundo.
E ela permaneceu com ele por isso. E foi cúmplice de um
formador de quadrilhas.
---
A imagem do noticiário na televisão velha na casa de Joel
mostrava Ártemis Perrini, uma jornalista que outrora era repórter de campo,
agora apresentando o jornal do meio-dia.
“Dois homens que estiveram envolvidos no tiroteio que houve
no primeiro dia do ano foram soltos hoje às onze horas, o advogado criminalista
que defendeu o réu, Edgar Prado, não quis se pronunciar. Os dois homens são
conhecidos como Pincha e Travolta. Ambos estão envolvidos com a facção
criminosa conhecida como Homens do Morro na Vila Joanópolis em São Paulo.”
Em outro canal, vemos um sujeito gordo, de terno, usando
óculos.
“Olha só pra vocês verem!” “Os caras ficam se envolvendo em
tiroteios dessas gangues, matam uma centena de pessoas inocentes, e não
inocentes, tiram o sono de uma centena de famílias e depois, por causa de uma
porcaria de um advogado de bandido eles são soltos e podem ir almoçar com o
papai e com a mamãe que vão ficar adulando pra eles irem matar mais gente! E eu
pergunto! E quanto à família dos inocentes que foram baleados nesse tiroteio? Ô
amigo! Vê se dá um crédito!”
Joel mudou de canal, ele já havia visto o que necessitava
ver. Já possuía as informações que precisava, podia assistir a Liga da Justiça
agora que sabia que Travolta e Pincha, dois dos líderes da organização Homens
do Morro tinham um advogado que era bom o suficiente para soltá-los dois dias
após serem presos. Provavelmente havia algo a ver com o “Habeas Corpus” que era
uma artimanha que advogados em favor de bandidos usavam para soltá-los, que o
pai de Joel sempre se queixava. Mas agora não era hora de importar-se com isso.
Joel havia tido notícias de que o filho de Albert Einstein estava trocando
tiros com os soldados de seu pai e pretendia acabar com isso mais que
imediatamente.
Joel vestiu-se como Rider e foi para as ruas, antes de sair
de Joanópolis, ele se deparou com um grupo de moradores raivosos. Havia um
tumulto acontecendo em uma rua sem saída, havia um grupo grande de pessoas
cercando um senhor de idade, branco, com a pele levemente escurecida devido ao
excesso de álcool que consumia. Barbas e cabelos grisalhos, dentes parcialmente
destruídos, vestia casaco rasgado, calças maltrapilhas, uma camiseta suja e um
gorro em semelhante estado. Dentre a multidão que o cercava havia uma mulher
branca de cabelos castanhos, vestia-se consideravelmente melhor que os demais.
Ela parecia aguardar pelo pior enquanto filmava tudo.
As pessoas jogavam pedras no sujeito, algumas o ameaçavam
ferir com pedaços de madeira, outras gritavam palavras de ódio para ele.
Rider não pensou duas vezes, pedalou o mais rápido que pôde,
enfiou-se entre a multidão, pegou o sujeito pelo casaco que vestia e o tirou de
lá o mais rápido que pôde.
As pessoas ficaram surpresas, algumas comentaram entre si, alguns
tentava reconhece-lo, mas parecia impossível com as roupas que ele usava e com
a camiseta rasgada que usava no rosto. Apesar disso, muitos começaram a seguir
Rider e ele viu que estavam todos destinados a matar o velho. A mulher com a
câmera vinha logo atrás.
Rider parou de pedalar e perguntou:
-O que foi que aconteceu? O que é que este homem fez para
vocês agredirem ele desta maneira?
Rider começou a notar que sangue começou a escorrer da cabeça do mendigo que possuía em seus braços.
-Ele precisa de cuidados médicos, vou ver se o levo a um
hospital! Por que vocês estão ferindo ele?
-Solta ele, guri! – Falou um homem maior dentre a multidão,
- Senão eu vou te pegar pessoalmente!
-A gente decidiu que ele vai virar um mártir da população de
Joanópolis! – Falou uma mulher gorda e negra.
-Como é?
Após Rider se mostrar confuso houve um alvoroço e as pessoas
começaram a ataca-lo verbalmente. Ele não sabia quem ouvir primeiro.
-Solta o velho que ele morre hoje! Ele foi pego
roubando! A gente tá cansado de violência nessa vila! Tem gente morrendo todo
dia! Já estamos cansados dessa violência! Ele é membro da facção criminosa!
Rider finalmente teve noção do que ocorria, ele olhou para a
patética criatura que tinha envolvida em seu braço esquerdo, viu o quanto ele
parecia sem sintonia do que ocorria, o sujeito não parecia ligar para nada, seu
olhar parecia distante, parecia que se ele morresse ali, não faria a menor
diferença. O vigilante aproximou a mão de um dos bolsos de seu casaco e pensou
que o melhor a fazer seria salvá-lo, por mais errado que o mendigo estivesse,
por mais que ele tivesse cometido o pior dos erros, haveria tempo para que ele
fosse julgado, mas essa não era a hora.
-Você tá usando máscara! Você provavelmente é membro do grupo do Albert Einstein! –
Gritou uma mulher branca, já velha e acabada. Tinha um cigarro na boca.
-Já chega! Solta ele agora! –Falou um homem grande e negro,
que decidiu avançar contra Rider.
Rider enfiou a mão no bolso do casaco, agarrou três bolas
envoltas em uma camada de borracha e jogou-as no chão. O impacto permitiu que
elas explodissem e liberassem um pó branco que deixou aqueles que estavam à
frente da multidão temporariamente estagnados.
Isso deu tempo para que Rider segurasse o mendigo nas mãos e
pedalasse com o máximo de força que conseguisse. Ele se foi e aqueles, dentre a
multidão, que conseguiam vê-lo não conseguiram alcança-lo pois os que estavam
na frente serviram de obstáculo.
Rider conseguiu levar o mendigo para o seu esconderijo (a
garagem de sua casa) lá ele encontrou-se com seu fiel escudeiro, Tomas, que
decidiu dar uma olhada nos ferimentos do mendigo, ele concluiu que era capaz de
ajuda-lo. O sujeito parecia gravemente ferido, mas a princípio possuía menos
ferimentos que Rider quando voltara da luta contra Cabeça de Azeitona.
Enquanto Tomas pegava algodões e esparadrapos para atar as
feridas na testa do sujeito. Rider decidiu perguntar seu nome.
-Judas... Meu nome éJudas... – Falou em um tom quase
inaudível.
Rider agachou-se e olhou o homem nos olhos.
-Senhor... Senhor Judas... Me diga... Me diga... Onde está
Albert Einstein Junior e seus comparsas. Eu estou disposto a pará-los. A
qualquer custo.
Senhor Judas começou a balbuciar algumas palavras
inaudíveis, ele falava coisas consigo mesmo que pareciam ser impossíveis de se
entender, Joel tentava entende-lo, ele sentiu pena do sujeito, ao mesmo tempo
que sentia que ele poderia servir de ajuda contra os criminosos que procurava.
Depois de um tempo falando coisas que Tomas e Joel praticamente ignoraram, ele
começou a falar coisas que soavam com o português.
-Eles já mataram três... Já mataram três e vão matar ainda
mais...
-Quem? Quem eles já mataram?
-Isso... Isso eu não sei... São apenas boatos... –Judas fechou os olhos e ameaçou desmaiar.
Joel viu um homem cansado à sua frente, um sujeito que já havia vivido demais,
que estava à beira da morte e que nunca havia conquistado grandes objetivos em
sua vida, era o típico sujeito cuja vida havia sido um total fracasso, Joel não
sabia se ele possuía uma esposa ou alguém que se importava com ele.
-Tomas... –Rider estava pensativo, Até que virou-se para seu
parceiro.
-Você pode tomar conta dele esta noite? Eu não posso deixar
ele aqui, minha mãe e meus irmãos vão descobri-lo, eu preciso que você tome
conta dele na sua casa.
-Rider, é melhor deixa-lo em um abrigo para velhos. Eu não
posso leva-lo pro lugar onde eu moro, meus companheiros de quarto vão reclamar.
– Falou Tomas, ciente do fato de que deveria manter a identidade de Joel
intacta.
-Então está certo... Levemos ele para um abrigo de ido...
–Antes de terminar, Rider e Tomas deparam-se com a garota que estava filmando
Judas e os demais há alguns minutos atrás.
-Cara, que maneiro! Um super-herói de verdade! -Falou ela.
-Heim?
-Tipo, a tua roupa é muito maneira! Você usa proteções pros
joelhos e pros cotovelos! Muito maneiro, e o seu boné, cara! E você se veste de
azul e verde! E tem um sol amarelo no peito! É o autêntico super-herói
brasileiro! O teu estilista realmente se superou! Aposto que você tem um nome
super brasileiro, tipo Capitão Brasil ou Homem Tupi, ou coisa parecida! À
propósito, meu nome é Jennifer! Jennifer da Cruz!
Jennifer era uma garota que parecia ter dezoito anos de
idade, vestia calça preta, colete preto por cima de uma camisa branca abotoada
com manga, cabelos lisos castanhos soltos e sapatilhas pretas nos pés.
-Você filmou o meu resgate com a sua câmera, não foi?
-Na verdade eu tirei algumas fotos pra mandar pro jornal que
eu trabalho de freelance, você vai ficar super famoso, cara!
-Essa mulher enlouqueceu, Tomas! Temos que mata-la!
-Mas você usa essas roupas todas cheias de detalhes e cores
você só pode estar atrás de atenção!
Joel e Tomas entreolharam-se.
Jennifer notou Tomas, ela viu o quanto este estava ocupado
cuidando de Judas e o quanto este estava ferido.
-Ele não parece bem.
-Eu acho engraçado como você deixou aquele pessoal bater
nesse sujeito, você podia ter contatado as autoridades, já que você tem contato
com algum jornal que eu mal sei qual é, mas não, você ficou lá tirando fotos
com a sua camerazinha de bolso!
Jennifer ignorou Rider, ela se aproximou de Tomas.
Tomas olhou para Jennifer como quem via a pessoa mais bela
do mundo. Ela viu nele um cuidador, um homem que era capaz de suprir a dor
alheia. Ela abaixou-se, viu o quanto Judas precisava de apoio, tentou se
redimir daqueles dois homens que a consideravam uma mulher completamente
desprovida de sentimentos, já que ela se mostrava apenas interessada em
conseguir seu benefício próprio, ponderou por alguns instantes e falou:
-Eu posso leva-lo para um abrigo próximo de onde moro, meu
carro está estacionado aqui perto. Vem comigo, assim você me ajuda a cuidar dos
ferimentos dele no caminho.
-Mas e quanto às fotos do Rider? – Perguntou Tomas.
-Eu vou mostrar apenas as fotos do homem sendo agredido. –
Ela virou-se para o mascarado.
-O que vocês acham?
-Já que você vai levar o velho pra gente, então eu tenho que
confiar na sua palavra. –Falou Rider. –Enquanto pensava.
-Então está resolvido, você vem comigo, senhor Tomas? –
Jennifer indagou Tomas, esperando que ele a acompanhasse.
Rider sussurrou a Tomas:
-Você sabe bem o que fazer, peque a câmera dela e não a
deixe saber disso.
Tomas e Rider levantaram o Senhor Judas, este acordou
subitamente e foi levado ao abrigo por Jennifer e Tomas.
Joel permaneceu na garagem de sua casa por algumas horas mais até que começou a sentir saudades de seu pai. Ver um homem velho em uma situação precária havia feito-lhe ponderar sobre a situação do homem que o havia criado, apesar de ter vingado o que aconteceu, Joel ainda sentia um vazio dentro de si, a falta que seu pai fazia era enorme, não saber se este sobreviveria era algo que lhe devorava por dentro.
Joel permaneceu na garagem de sua casa por algumas horas mais até que começou a sentir saudades de seu pai. Ver um homem velho em uma situação precária havia feito-lhe ponderar sobre a situação do homem que o havia criado, apesar de ter vingado o que aconteceu, Joel ainda sentia um vazio dentro de si, a falta que seu pai fazia era enorme, não saber se este sobreviveria era algo que lhe devorava por dentro.
O grande “herói” de Joanópolis apoiou-se em uma parede da
garagem de sua casa, e ignorando os respingos do sangue do Senhor Judas que
havia nela, sentiu-se só, sentiu-se sem ninguém, sentiu que não havia ninguém
que poderia apoiá-lo, consolá-lo. Sentiu-se como o Senhor Judas estaria
sentindo-se neste momento. Joel tirou a máscara e chorou, ele sentiu seu rosto
esquentar, seus olhos arderem, sentiu novamente o medo de ser pego pela
polícia.
E mais uma vez, o herói fraquejou. Mas desta vez ele não
tinha ninguém que pudesse consolá-lo, Tomas não estava por perto, não havia
sinal de sua família. Desta vez ele tinha apenas a si mesmo.
---
Às seis horas da noite, Edileuza Maria de Aparecida foi a
primeira a entrar em casa, ela foi seguida por seus dois filhos. Miriam Maria
de Aparecida e Nazdan Neto, Edileuza chamou pelo filho Joel, ela não teve
respostas.
-Onde está esse garoto a essa hora?
-Eu quero saber onde está o meu terceiro filho que eu
preciso falar com ele imediatamente, onde está o guri? – Falou Nazdan Filho,
que foi o quarto a adentrar a casa.
Edileuza gritou o nome de Joel pela última vez com todas as
forças.
Foi quando o próprio deu-se por conta de sua própria
existência.
Joel estava deitado, ainda vestido como Rider, sem máscara,
na garagem de sua casa, quando percebeu que sua família inteira estava em casa,
apressou-se em tirar as proteções para os joelhos e para os cotovelos, jogou
seu casaco na máquina de lavar roupas presente no local, virou a camiseta que
vestia do avesso e tentou limpar as manchas de sangue já secas na parede da
garagem.
Quando a mãe e o pai de Joel apareceram na garagem, ele já havia limpado parte do
sangue na parede e havia jogado os panos sujos na lata de lixo para que eles
não os vissem.
Joel permaneceu imóvel quando os dois adentraram a garagem,
esperou pelo pior quando eles apareceram, chegou à conclusão de que os dois
poderiam saber de tudo a qualquer instante. Quando Nazdan se aproximou do
filho, este estava de costas para ele, as roupas de Joel estavam sujas, suadas
e mal lavadas.
O homem negro e careca não se importou, abraçou o filho e
sentiu-se grato por estar em casa.
Joel não havia sentido uma alegria tão grande em algum
tempo, sentir o cheiro de pasta de barbear, nicotina e suor que exalava o pai
fora uma felicidade muito maior que ser capaz de dar ou levar uma surra de
qualquer bandido nos últimos dias.
Mas havia um porém, apesar de Seu pai estar vivo, seu
trabalho como Rider agora havia terminado, ele poderia voltar à sua vida
medíocre como nerd viciado em quadrinhos, sem excitação sem propósitos, sem
ambição, sem adrenalina. Apesar de sentir-se grato por seu pai estar vivo,
sentia o desespero de voltar a ser o verme medíocre que sempre fora. De voltar
a viver a vida cheia de frustração e desapontamentos de outrora.
Mas agora ele poderia culpar a si mesmo pela morte de Albert
Einstein, o chefe do crime, agora ele possuía um novo dilema em suas mãos, se a
polícia descobrisse seu paradeiro. Ele certamente iria para a cadeia, pois
agora era certeza de que Albert Einstein havia morrido em vão.
E o pior de tudo era que seu filho provavelmente iria querer
saber quem havia matado seu pai, e quando ele descobrisse a verdade, iria
colocar todos os seus soldados atrás de Joel.
As coisas poderiam melhorar ou piorar.
Era tudo uma questão de escolha para Joel, mas era ele quem
deveria terminar o que começou, pois havia outro traficante a solta. E era seu
dever pará-lo.
Joel quase que sentiu-se aliviado ao saber que ainda haveria
algo a se fazer atrás da máscara do Rider, que ele ainda poderia suprir sua
loucura vivendo a vida de um vigilante em Joanópolis. Ele abraçou o pai, e
agradeceu aos céus, pois ainda havia sentido em sua vida medíocre.
---
Junior decidiu atacar uma quarta boca de fumo que estava em
poder de seu pai, o nome de seu líder era Cavanhaque, um sujeito branco, de
cabelos negros encostando-se aos ombros, andava sempre de tênis caros e
bermudas de surfista.
O filho de Alberto Everardo decidiu escolher um quarto chefe
para a boca de fumo que estava prestes a dominar, era um primo seu, do lado de
sua mãe. O apelido que lhe deram era Bola Oito, um sujeito gordo, negro,
possuía o cabelo raspado. Tinha o costume de vestir uma camisa xadrez e calça
jeans.
Bola não levava essa ideia de entrar para o tráfico muito a
sério, sua vida sempre fora trabalhar duro em um negócio de estacas e pilares que
possuía com uns amigos e com um primo que ele e Junior tinham em comum, Wilson,
um primo o qual Bola tinha afinidade, mas tanta afinidade que Bola dizia amá-lo
mais que a seus próprios irmãos. Mas quando seu pai adquiriu uma doença grave, cuja
qual poderia deixa-lo em estado terminal, se não fosse tratada logo, Alberto
Everardo Junior ofereceu-lhe uma posição de autoridade no tráfico, ao invés de
denunciá-lo , Bola decidiu investir na venda de narcóticos para pagar o tratamento
do pai, já que este não possuía um plano de saúde. Quando Wilson soube disso
não concordou, porém, deixou que seu primo e melhor amigo vivesse da maneira
que desejasse.
A noite era chuvosa, os homens de Junior estavam em
prontidão, preparados para atacar, Bola carregava sua pistola estilo Beretta
92, que fora entregue pessoalmente pelo chefe, e sentia os pingos de chuva
caírem sob sua cabeça.
Bola estava escondido atrás de um tonel de lixo, o cheiro o
incomodava, mas ele acreditava valer a pena, ele e mais um sujeito com cara de
poucos amigos aguardaram por algum sinal, quando Branquelo apareceu e avisou
que Junior estava tentando negociar com Cavanhaque.
Não demorou muito até que Bola ouviu sons de tiros e vozes
dando o comando para avançar e entrar no estabelecimento em que estavam. Bola
adentrou-o e tentou desviar dos tiros que vinham em sua direção.
-Vem aqui, senão você morre! – Gritou Têjota a Bola,
escondido atrás de uma mesa de madeira. Eles tiveram sorte, pois não demorou
muito até que Junior fosse capaz de abater todos os comparsas de Cavanhaque com
alguns poucos tiros.
-Eu falei que era melhor você se submeter a mim, seu moleque
rebelde! – Junior gritou a Cavanhaque.
-Eu sou um sujeito muito cauteloso, Junior, eu não vou me
submeter a você quando eu posso simplesmente tomar posse dos negócios do seu
pai e me tornar o mais novo chefe do tráfico por conta própria! As coisas
estavam dando certo antes de você aparecer e...
– Cavanhaque começa a dar o seu discurso enquanto se levanta e dispara contra
os homens de Junior, ele tenta fugir, mas é impedido.
-Ah, cala a boca! – Junior interrompe Cavanhaque com um tiro
diretamente em seu olho, que explode ao entrar em contato com a bala vinda da
Taurus 40 do rapaz de cabelos avermelhados.
Bola se torna o líder da boca de fumo que outrora era de
Cavanhaque, mas antes de liderar ele aprende a enrolar fumo, a cortar os lotes
da maconha, a moer cocaína, etc.
Bola sabia das consequências devastadoras que isso traria
para sua família e para si mesmo se ele fosse pego mas ele estava disposto a pagar o preço se
isso significasse a salvação de seu pai.
---
A imagem do noticiário é clara, podemos ver Artemis Perrini,
a apresentadora atual do Jornal Nacional.
“Essa semana foi marcada por tiroteios e mortes na região
campestre de Joanópolis. Dezessete membros de gangues foram mortos em um
conflito armado, seus corpos foram queimados e abandonados em latões de lixo,
os suspeitos ainda estão sendo procurados pelo distrito policial local.”
Vemos uma das mães dos traficantes chorando
desesperadamente. Uma jovem senhora mulata, com roupas convencionais. Ouvimos
uma voz masculina narrando a notícia.
“A dor é muito grande, diz dona Luiza, a mãe de Luis prestes
filho, mais conhecido como Creepy, um adepto do movimento Punk, que estava
dentre os traficantes que foram mortos, ela diz que não sabia que o garoto
vendia drogas ilegais, apenas pensava que ele e uns amigos queriam formar uma
banda de rock.”
“É uma dor muito grande, muito grande, e eu mal tinha ideia,
ele nunca tinha falado isso pra gente, meu Deus, onde esse mundo vai parar,
minha nossa senhora?”
“Os amigos de Luis dizem que ele foi morto por um traficante
que estava retomando os negócios do pai, conhecido como Albert Einstein, que a
princípio foi morto por vigilantes a algumas noites atrás, o apelido que a
polícia está dando para este novo sujeito é O Arqueiro por sua facilidade e
proficiência em manejar armas. Eu sou Alexandre Bonfim, para O Jornal
Nacional.”
Junior desligou a televisão do esconderijo onde estava, ele
olhou à sua volta. Viu que seus três amigos, Branquelo, Têjota e Marrom, não
estavam mais por perto. Eles estavam, os três, cuidando de seus pontos de
vendas de drogas. Ele viu que agora haviam apenas alguns de seus seguidores,
dois moleques, que deviam ter menos de quinze anos de idade, jogando cartas,
sentados em uma mesa, um pouco afastados dele, ambos portavam armas, escondidas
em seus bolsos.
Ele agora era o novo chefe do tráfico em Joanópolis, tinha
consciência disso, o vigilante tinha feito o favor de eliminar os Homens do
Morro, tudo o que ele próprio teve de fazer foi eliminar os próprios homens de
seu pai e aclamar a coroa para si. Ele não possuía rivais, Ele gostou do nome
que a imprensa e a polícia haviam lhe dado. O Arqueiro. Era um nome que lhe
fazia jus, ele sentia orgulho de sua mira. De como acertava os olhos de seus
adversários com precisão.
Ele embriagou-se em seu orgulho e em sua satisfação,
esqueceu que possuía uma mãe orava para que ele arrependesse-se de seus pecados
e voltasse para casa antes que algo terrível lhe acontecesse. Mas em um momento
de lucidez, lembrou-se que havia um homem à sua procura. E ele sabia que este
homem, de certa forma fora o responsável pela morte de seu pai. A polícia não
sabia os Homens do Morro não sabiam, Mas Alberto Everardo Junior, O Arqueiro,
de alguma forma sabia.
E ele jurou que o vigilante, Rider, morreria pela sua mão.
Não por que Albert Einstein era amado pelo filho, mas por que quem deveria ter
matado o líder do tráfico em Joanópolis era ele: O Arqueiro.
E a Contenda estava selada.