Wednesday, September 4, 2013

Episódio 3 - Dia 1 De Janeiro de 2013




Dia 1 de Janeiro de 2013

Manhã. A Imagem do noticiário é visível, porém, apresenta alguns defeitos e ondas distorcendo-a. É Patrícia Poetisa, a atual apresentadora do Jornal de São Paulo.

-A virada do ano foi marcada por explosões e medo na Vila Joanópolis, interior de São Paulo. Um conflito entre homens armados acabou deixando cinco suspeitos feridos. A reportagem é de Ártemis Perrini.

“Após quase bater com um veículo contendo cinco homens, o caminhoneiro Almir Freitas de Souza foi obrigado a parar seu automóvel próximo ao acostamento da Avenida Mario Pinheiro. Segundo o motorista, ele tentou fornecer ajuda aos cinco que saíam de dentro do carro porém, foi interceptado por um deles, que o obrigou a sair de perto do caminhão. Após correr e conseguir contato com autoridades locais, Almir voltou, dentro de uma viatura policial, à cena do crime, esperando recuperar o seu veículo, no entanto, ao chegar ao local viu seu automóvel destruído por uma explosão causada pelo impacto entre o caminhão e o carro dos suspeitos.”

-Eu tentei entender o que havia acontecido. Algumas pessoas me disseram que viram um homem de máscara dirigindo o meu veículo e indo de encontro ao carro dos bandidos, não sei se esse sujeito estava tentando ajudar, mas tenho certeza de que ele atrapalhou, não só a minha, mas também a vida de muita gente! – Vemos o caminhoneiro dando uma entrevista para o noticiário. O cenário do crime mostra um carro da marca Volkswagen completamente queimado ao lado de um caminhão em situação parecida.

“Os suspeitos estão sob julgamento por terem cometido um assalto ao Posto São João, que fica próximo da avenida. Eles alegam que foram interceptados por um homem negro usando uma máscara. As autoridades locais dizem que tudo indica que trata-se de atividades de vigilância. Eu sou Artemis Perrini, para o Jornal de São Paulo.”

-Eu não acredito nessa bosta, como é que esse camarada conseguiu fazer isso tudo sozinho? Aqueles infelizes devem ser as criaturas mais incompetentes desse mundo. – Falou Travolta, um sujeito branco, com o cabelo levemente longo e amarrado atrás, usava óculos escuros, tinha uma aparência similar à de quem havia inspirado seu apelido. Ele permanecia sentado sob um banco de borracha e limpava as mãos meladas de amendoim, usando o caríssimo terno Armani que vestia.

-Vai ver ele tem super poderes. – Falou Pincha, um mulato portador de Dread-Locks, ele examinava uma das armas que possuía em um colete escondido em seu terno.

-Deixa de ser idiota, esse vigilante certamente não passa de um “merdinha” que teve a sorte de lidar com o peão mais incompetente dessa organização! Olha só pra esse idiota!–Travolta apontou para a imagem do assaltante, na televisão, é um sujeito careca, branco com a boca ensangüentada e um crucifixo amarrado no pescoço. – O cara não tem jeito pra ser bandido! Ele não é merecedor do terno! Não passa de lixo e teve o que mereceu!

-E o pior. – continuou – É que ele é parente da minha ex-namorada! Acredita nisso, Azeitona? A vadia vai ficar em pé-de-guerra quando descobrir que tem um cara da própria família dela mexendo com o que não deve! E pensar que foi por esse motivo que aquela cachorra me deixou! – Terminou.

Cabeça de Azeitona era o apelido que haviam dado a Washington Evandro Silva, o segundo em comando da organização criminosa Homens do Morro. Azeitona é um homem negro de dois metros e vinte de altura, possui o aspecto de quem poderia matar alguém com as próprias mãos. Ele usa terno assim como todos aqueles que estavam um cargo acima dos “peões” da organização.

O meliante que havia sido preso na noite anterior era um daqueles que, ao entrarem para a organização, tinham de provar sua utilidade ao fazerem favores pequenos ou cobrando o dinheiro de drogas para pequenos consumidores. Faziam isso até que conseguissem cargos superiores e passassem a vestir terno, como azeitona e seus dois aliados. Estes faziam parte de uma classe que entrava em tiroteios com gangues rivais e torturavam desertores, ou donos de empresas inadimplentes, até a morte.

Hoje eles descobriram que um grupo da Vila Joanópolis tem entrado em conflito com alguns de seus peões, havia sinais de que membros dos Homens do Morro estavam morrendo pelas mãos destes indivíduos. O grupo, pelo visto, era liderado por um homem chamado Albert Einstein.

Apesar de o esconderijo principal dos Homens do Morro estar localizado em Sampa, Joanópolis fazia parte da história do grupo, mais especificamente de seu líder: Elias Salomão. Um nome cujo qual faz qualquer opositor tremer nas bases. Porém, tal designação era o mais próximo que grande parte dos criminosos de Joanópolis havia entrado em contato. Existiam rumores de que Elias fora criado em meio às crianças da vila, em meio àqueles que hoje estão saindo da adolescência e definindo as pessoas que seriam no futuro, sejam elas boas ou más.

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Após uma noite combatendo o crime como Rider, o novo super-herói de Joanópolis, noite esta que, apesar de exaustiva, fora completamente satisfatória. Joel de Aparecida voltou para casa, jogou-se na cama e apenas acordou ao meio-dia com sons de caminhões passando em frente à sua casa.

A sorte de ter sobrevivido a um confronto com traficantes havia apenas alimentado o desejo que o indivíduo tinha de continuar com o perigoso estilo de vida que havia iniciado há dois dias.

Joel tomava café com torradas velhas quando recebeu seu irmão: Nazdam de Aparecida Neto. Um homem negro, de vinte e oito anos de idade, tinha um porte físico consideravelmente maior que o de seu irmão. A dura realidade era que Nazdam sofria de sérios problemas com alcoolismo, devido a isso, ostentava uma barriga de chope digna de respeito.

-Tu não ta sabendo o que aconteceu com o papai? – Perguntou o irmão de Joel. – Ele foi baleado ontem num tiroteio com os caras do Albert Einstein.

Joel já esperava que tal desastre acontecesse em sua vida, ter um pai policial lhe dava a certeza de que tornar-se-ia um órfão mais cedo que poderia imaginar. No entanto, agora, diferente de outras etapas de sua vida, o mais novo vigilante de Joanópolis poderia fazer algo a respeito. Sua confiança era tanta que poderia vencer qualquer desgraçado que ousasse colocar a mão em sua família. Afinal, agora Joel tinha o medo a seu favor. Ele era um guerreiro que lutava pela justiça.

A triste e dolorosa verdade era que os líderes criminosos, que simplesmente não se intimidavam com um maluco fantasiado batendo em seus peões, pretendiam encontrá-lo e eliminá-lo.

-Ele também foi espancado, dizem que o próprio Albert Einstein tava no dia, ele fez um jogo psicológico com o nosso velho e depois deixou o coitado pra morrer. – Continuou Nazdam. – Os médicos avisaram que não sabem se ele vai sobreviver!

A ira começou a crescer dentro de Joel. Esta era a oportunidade perfeita para que ele pudesse novamente viver a vida de herói.

-Você veio pra me levar pro hospital?

-Não vai adiantar, ele ainda está em coma, é melhor esperar. Mas a mamãe ta preocupada contigo, disse que você sumiu ontem à noite.

-Eu estava ocupado, será que dá pra dar licença? – Joel teve uma idéia que lhe forneceria apoio em sua busca pelo homem que havia agredido o seu pai na noite passada, quando Rider estava ocupado prendendo outros criminosos.

Ele investigaria os arquivos que o pai levava para casa toda noite e descobriria os pontos de atividade do chefe do crime. Assim, o levaria à justiça como todo super-herói deve fazer.

Depois de um bom tempo conversando com o irmão, Joel conseguiu deixá-lo completamente bêbado. A ponto de este sentir um sono incontrolável. Fora a oportunidade que o vigilante necessitava para entrar no quarto do pai e apenas sair de lá vestido pronto para mais uma noite de agitação.

Joel adentrou o quarto, vasculhou os arquivos que seu progenitor guardava em um armário. Não havia muita coisa. Um mapa de Sampa foi algo que lhe chamou a atenção, ele permaneceu observando-o por algumas horas. Havia também anotações e folhas de papel com manuscritos informando o paradeiro de alguns criminosos. Joel passou grande parte da tarde lendo cada pedaço de informação.

Aquilo que mais chamou a atenção de Joel foram alguns nomes anotados nas agendas de seu pai: Cabeça de Azeitona, Travolta e Pincha. Eram os três apelidos dos criminosos mais procurados pela polícia de Joanópolis, ser detentor do conhecimento destes era o suficiente para que Joel fosse capaz de investigar o submundo de Sampa, encontrá-los e identificar a localização do esconderijo de Albert Einstein. Rider poderia encontrar qualquer pessoa relacionada e interrogar qualquer um que soubesse alguma coisa sobre os mesmos. E ele deveria fazer isso antes do anoitecer.

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Washington Evandro Silva, mais conhecido como Cabeça de Azeitona, estava tomando café da manhã com sua esposa quando descobriu que possuía uma missão naquela noite. Ele havia recebido uma ligação de seu líder, Elias Salomão, pelo celular e este lhe havia avisado que o grupo de Albert Einstein havia espancado um policial até a morte na noite passada. Isso traria problemas, já que a partir de agora a polícia não seria condescendente com nenhum dos grupos influentes em Joanópolis. Azeitona e seu grupo deveriam estar armados e preparados para combater as autoridades.

-Então, noite agitada no trabalho, meu amor? – Perguntou Olivia, a esposa de azeitona, esta já notava a preocupação nos olhos de seu cônjuge.

-Um pouco, meu bem, parece que um dos nossos funcionários foi atacado por bandidos na noite passada. – Washington sabe muito bem que, se sua amada descobrir a verdade sobre seu emprego, ela o abandonará e nunca mais voltará seus olhos escuros e penetrantes ao dele.

A verdade era que os Homens do Morro agora possuíam um novo obstáculo, além da gangue rival, o ataque de um vigilante a um grupo de peões fora problemático para a empresa e agora Azeitona possuía dois adversários a eliminar.

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Três horas da tarde e Rider está nas ruas, invadindo bocas de fumo, arriscando levar um tiro nas costas e, embora ele se fira gravemente com os golpes que recebe dos criminosos que tenta interrogar, ele não desiste e permanece firme em seu propósito. Alguns meliantes abatidos informam-no sobre um fotógrafo que havia sido chantageado pelos Homens do Morro a não mostrar fotos que revelam a verdadeira aparência de Cabeça de Azeitona e dos demais.

Rider consegue eventualmente encontrá-lo e interrogá-lo. O vigilante é obrigado a ameaçar o sujeito em troca das fotos que deseja, depois da insistência do herói, lhe são entregues as fotos, e de prêmio, ainda lhe são informadas algumas coisas pessoais à respeito do criminoso.

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Olívia era artista plástica, já havia vivido no exterior, comercializando algumas de suas obras, e agora vivia em um apartamento na região de Moema em Sampa. Quando havia se mudado para lá, a vida seria um novo e mais pacato recomeço. Ela não suspeitava da vida secreta de seu marido, que agia em sigilo e mentia que possuía uma empresa vendedora de sistemas de comunicação via rádio.

Ela esperou que seu marido saísse para o trabalho, para que pudesse terminar de arrumar o local em que ambos viviam, depois disso, talvez ela fosse ao supermercado para comprar alguns utensílios necessários para o jantar especial que faria para seu amado. Ela sabia que ele voltaria tarde e, segundo o que lhe dissera, estava tendo momentos estressantes no trabalho, mas não poderia perder a oportunidade que tinha de passar com ele o curto tempo em que este permanecia em casa.

A esposa de azeitona era uma mulata de cabelos cacheados, tinha trinta e sete anos, não tinha filhos e não os desejava. A vida em Sampa era satisfatória, mas preocupante, ela sabia que vivia em uma das cidades mais violentas do mundo, mas acreditava, dentro de si, que ter alguém como Washington em sua vida, dedicando-se tanto para dar conforto e uma vida consideravelmente repleta de luxúrias a ela. Ser esposa do primeiro empresário negro, líder de uma multinacional, vendedora de sistemas de comunicação era algo que a deixava orgulhosa, ela nunca suspeitara que seu marido fosse chefe de vendas de drogas, tinha certeza de que um homem como Washington jamais trairia sua confiança, ela até mesmo recebia balancetes e contas pelo correio, com o nome da própria empresa, que ele havia colocado em seu próprio nome.

Quando Olivia atravessou uma esquina, para entrar em uma luxuosa padaria, próxima do apartamento em que vivia, foi parada por um sujeito de bicicleta, negro, vestindo máscara, boné, luvas e casaco verdes, uma camiseta branca com uma imagem do sol estampada no peito, calça jeans encardidas, proteções para os joelhos, cotovelos e calçava um tênis amarelo.

Era o vigilante de Joanópolis em pessoa, o sujeito que levaria seu marido à justiça, por motivos que ela ainda desconhecia.

-Com licença, madame. – Falou o indivíduo. Olívia notou o quanto ele estava ferido, seu rosto estava repleto de hematomas, ele segurava o próprio torso como quem tinha algumas costelas quebradas. – A senhora poderia me fornecer informações sobre o senhor Washington Silva?

-O que você quer com meu marido?

-A senhora não tem medo de ser acusada de ser cúmplice de um formador de quadrilha?

-Não faço idéia do que está falando.

-Pois eu estou procurando pelo paradeiro do seu marido desde o meio-dia e finalmente fui capaz de descobrir quem ele realmente é. Ele é o criminoso conhecido como Cabeça de Azeitona, membro de um dos vendedores de drogas mais influentes da vila Joanópolis.

-Eu... Eu não posso acreditar no que está dizendo. –Olivia fitou o mascarado à sua frente com uma expressão de dúvida e temor, de uma forma horripilante ela sabia que ele estava certo, e que ele dizia a verdade.

-A senhora jura que não sabe nada sobre o fato de ele ser membro dos Homens do Morro? – O vigilante retribuiu o olhar à mulher. Consigo mesma, ela tentou negar aquilo que Rider dizia, segurou uma lágrima e falou:

-Eu não acredito no que está dizendo. Onde estão as provas?

O sujeito pegou uma foto que tinha guardado em um dos vários bolsos que tinha na calça.

-Não é o seu marido?

A imagem mostrava o homem conhecido como Cabeça de Azeitona, saindo da carroceria de um caminhão repleto de pacotes embrulhados com o que parecia ser crack, ele portava uma Uzi. O fotógrafo conseguiu pegar o exato momento em que o criminoso retirava uma máscara do rosto, que provavelmente fora usada para esconder a própria identidade.

Ao ver aquilo, Olivia permaneceu imóvel por um instante, quando começou a soluçar, seus olhos ficaram vermelhos, suas bochechas coraram.

Ela não sente medo de ser pega por policiais que talvez pudessem saber sobre o paradeiro de seu marido, a única coisa que sentia era angústia. A angústia de quem foi enganada durante anos de sua vida, e sustentada por um dinheiro retirado da clandestinidade. Ela era evidentemente uma idiota por nunca ter visto a verdade.

-Têm dois policiais cruzando aquela esquina, melhor eu me mandar. Eu... Eu só posso dizer que sinto muito, senhora. –Falou o homem de máscara, enquanto começava a pedalar.

Olivia foi deixada pelo vigilante. Ela ainda tinha sentimentos mesclados e não sabia o que fazer. Permaneceu por horas em estado de choque e quando se acalmou, não possuía ninguém com quem desabafar. Se contasse à própria família, esta levaria seu marido à justiça e ela jamais poderia vê-lo novamente. Seu dilema estava selado. Ela era a esposa de um criminoso e agora deveria esclarecer isso com o próprio.

Tudo o que Rider fez foi sentir pela esposa do criminoso. Ele sabia que agora era o causador de uma tremenda desavença e da destruição de um casamento, mas isso não importava para ele, o que Rider queria era levar Azeitona à justiça por todas as atividades ilícitas que este havia realizado, e não só ele. Joel estava disposto a levar a todos os criminosos de Joanópolis para a cadeia, essa era sua nova vida, esse era o destino que ele havia escolhido para si.

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A imagem no noticiário é clara, a televisão de tela plana mostra imagens de Nazdan de Aparecida Filho, o policial que foi espancado na noite anterior, a jornalista fala do ocorrido:

“Virada do ano repleta de tensão e medo para a família do Policial Nazdam de Aparecida Filho que foi espancado e baleado por um grupo de criminosos, nesta noite, relatos indicam que fora um grupo de traficantes local. Os policiais a serviço no décimo distrito de Joanópolis estão revoltados e prometem encontrar o paradeiro dos criminosos e levá-los à justiça.”

A delegada do distrito de Joanópolis, Jonna D’Arc, uma mulher de meia-idade, usando farda, cabelos lisos, castanhos, amarrados, encostando-se às costas. Faz um depoimento para as Câmeras.

“Nós não iremos tolerar este tipo de violência contra a polícia de Joanópolis, os suspeitos serão encontrados e levados à justiça!”

“Uma gravação foi mandada para o distrito da polícia militar ontem mesmo no exato momento em que notícias de que o oficial de justiça havia sido agredido começaram a chegar à delegacia.”

O telão mostra uma imagem escura, parcialmente distorcida. Existe um grupo de homens armados em frente à câmera, uma figura sombria começa a falar, é um sujeito obeso, com cabelos nas laterais da cabeça, aparentemente o líder do bando. Ao seu lado, está jogado um homem negro de meia-idade, careca, de farda, este está focado por uma luz fraquejando no teto.

“Joanópolis não é mais dos Homens do Morro, eu não vou mais permitir que eles controlem o tráfico nesta vila, e nem que imbecis como este aqui entrem no meu caminho. É uma questão de tempo até que Elias Salomão e seus comparsas estejam mortos. E a polícia não vai se meter no nosso caminho.

A Jornalista termina a notícia, dando início a um novo bloco no Bom Dia São Paulo.

Alberto Everardo, o Albert Einstein, era o barão das drogas em Joanópolis, um homem ambicioso, ele tinha propósitos de transformar Joanópolis em seu império particular. O comando que estava a seu serviço propunha recursos clandestinos a grande parte da população, mas ao mesmo tempo, oprimia aqueles que se recusavam a contribuir com o crescimento de seu negócio. Era literalmente um homem sedento de poder. Porém, matar um policial na noite passada havia sido um ato tão corajoso quanto idiota.

Ele havia sido capaz de espancar, juntamente com seus companheiros, um oficial da Polícia Civil, que havia sido corajoso demais para passar alguns dias monitorando as atividades no esconderijo principal do comando, o sujeito tinha apenas dois auxiliares. Que fugiram quando as dezenas de capangas que Albert Einstein tinha a seu serviço foram capazes de balear o sujeito e espancá-lo até que este estivesse em uma situação agonizante. Logo depois, alguém teve a brilhante idéia de gravar tudo e mandar as imagens para a imprensa.

O jornal havia servido como veículo para enviar a sua mensagem, Albert acreditava que, de agora em diante, o mundo saberia sobre seu pequeno império, bastava que ele se mantivesse livre das garras da lei, com ajuda de advogados, derrotar os Homens do Morro e matar Elias Salomão para conquistar sua coroa.

Alberto não possuía nenhum familiar além do próprio filho, um mulato que teve com Elisandra, uma negra que havia lhe fornecido abrigo quando fugiu do centro de Sampa para Joanópolis, procurando livrar-se da perseguição por parte dos militares.

Em tempos passados, Alberto fora um revolucionário de esquerda, combatendo o regime militar, havia ajudado a guerrear contra as autoridades, e, quando as organizações rebeldes foram capturadas, seu grupo se separou e ele se desvinculou com seus aliados, fugiu para uma área menos populosa e lá conheceu a mulher que seria mãe de se filho.

Havia passado pouco tempo depois que Einstein descobriu que seu próprio filho estava tentando vender drogas que estavam sendo adquiridas dentre seus próprios vendedores. Este era um dos fatores que contribuíam para o aumento de olheiras no rosto do traficante.

A verdade era que ele estava sentindo-se cansado, acabado, sem preparo físico. Sabia que ferir um policial traria mais problemas que podia resolver. Suas pálpebras pesavam. Ele sentia seus ossos doerem. Estava ficando velho e precisava começar a se recolher ao invés de sair por aí lidando com tiroteios e gente morrendo na sua frente.

Apesar deste sentimento, Albert viu que não tinha escolha, senão continuar com toda a sujeira que havia se envolvido. Afinal, era a única coisa que possuía. Sua esposa já o havia abandonado, ele não tinha o respeito do filho. Tudo o que lhe restara eram as pilhas e mais pilhas de dinheiro lavado, que o narcotráfico e uma empresa de celular o haviam proporcionado. Ele deveria levar isso em frente. Sentia medo, mas não poderia demonstrar isso na frente daqueles que o temiam, e na frente da própria sociedade. O mundo o via como um homem perigoso, e era assim que o tratariam.

Ele levantou-se de seu sofá, enquanto o noticiário passava pela televisão de plasma que ele havia comprado à vista a algumas semanas atrás. Seus “soldados” aguardavam por suas ordens enquanto jogavam baralho, bebiam uísques e vinhos caros e fumavam charutos de primeira linha, vindos de paízes próximos.

-Aí, meu chefe, o senhor já ta sabendo do que aconteceu duas noites atrás? – Um dos criminosos, um sujeito branco, de cabelo liso, longo, havia alguns dentes faltando em sua boca, carregava, orgulhosamente, uma A.R.-15 amarrada em um coldre em suas costas. Usava uma camisa sem-manga amarela, bermuda e havaianas azuis. Seu nome era José dos Santos, mas todos o chamavam de Zé Vira-Lata, devido ao fato de ter um pai negro, que havia morrido em um tiroteio entre facções rivais, e uma mãe branca que sofria de Esquizofrenia Crônica e vivia na base de doses noturnas de remédios para controlar e estabilizar seu organismo, isso a garantia uma noite decente de sono. José era o único que contava os remédios e era o responsável por fazer sua mãe ingeri-los. Mas isso não importava a ninguém além de si próprio.

-Eu não estou interessado... Seja lá o que for não quero ocupar minha mente com problemas.

-Mas patrão, o senhor precisa saber, tem um boato correndo por aí de que tem um sujeito batendo nos nossos comparsas, parece que o filho do senhor teve um encontro com o infeliz, os noticiários estão dizendo que é um vigilante. – Insistiu Vira-Lata.

A palavra entrou pelos ouvidos de Alberto como se fossem o ácido sulfúrico mais intenso que seus ouvidos pudessem sentir.

-Eu não acredito nisso, como se eu já não tivesse merda o suficiente acontecendo nessa droga. Convoque os homens, nós vamos invadir um dos esconderijos dos Homens do Morro, eu tenho certeza de que um dos três líderes em comando do grupo estará lá, nós iremos matá-lo e acabar com essa droga de uma vez por todas.

-Tá legal, chefe, mas e se a poli...

-Foda-se a polícia! Nós primeiro vamos acabar com esses desgraçados de terno!

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Travolta estava terminando de tomar uma garrafa de uísque, quando teve sua atenção chamada por Cabeça de Azeitona:

-Escuta aqui Travolta, tu recebeu a ligação do Elias Salomão hoje, né? Pois bem, tu vai ficar aqui e cuidar da tua galera, entendeu?

O local onde estavam estava repleto de armas, era vigiado vinte e quatro horas por dia. Os homens de Cabeça de Azeitona e de Pincha já estavam de prontidão, preparados para uma operação que iria acabar de vez com Albert Einstein e seus comparsas.

-Eu vi no jornal que o Einstein quase matou um policial, a polícia vai estar atrás dele de agora em diante, essa é a nossa chance de atacar e acabar com o progresso dele nas bocas de fumo em Joanópolis. O nosso plano agora é capturar um membro da família do Einstein como refém e chantageá-lo.

O jogo havia sido iniciado, o plano havia sido revelado aos demais e agora todos os membros dos Homens do Morro sabiam qual era o próximo movimento por parte de Elias Salomão e seus subalternos.

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Rider já possuía informações o suficiente a respeito de cada um dos três bastiões dos Homens do Morro, sabia os nomes de alguns dos seus familiares, já havia conversado com alguns deles. Possuía fotos em flagrantes e retratos falados de cada um, A informação mais vital que possuía era o fato de que grande parte deles usava terno, porém, havia aqueles que se misturavam à população e usavam roupas comuns, isso facilitaria e dificultaria o trabalho do vigilante.

O relógio apontava quatro horas da tarde em ponto. Rider começava a sentir exaustão por falta de nutrientes. Não havia parado para descansar, já tinha enfrentado vários grupos de criminosos, já havia se ferido de uma maneira considerável e ainda não havia parado para alimentar-se ou ingerir qualquer líquido. Sua única sede a ser saciada naquele momento era a de vingança, e Rider não pararia antes de ver o homem que havia agredido seu pai atrás das grades.

Passando por áreas mais obscuras de Sampa, por becos escuros, sujos de barro, poeira ou, em piores casos: Sangue, todos repletos de pessoas fumando e ingerindo drogas pesadas. Rider vê um bando de vagabundos agredindo a um jovem magricela. Antes de atacar, ele reza para que eles tenham conexões com os Homens do Morro.

Ele começa dando um ponta-pé em um sujeito cabeludo, com casaco azul. Um jovem que parece ter menos de quinze anos, mulato de cabelo raspado, usando nada além de bermuda e chinelo, saca um canivete de dentro do bolso e ataca o vigilante.

Esta não foi a primeira vez naquele dia em que um filho de puta tentava matar Joel usando algo cortante, o vigilante acredita que também não será a última. Ele desvia das investidas do garoto enquanto os outros dois meliantes do bando (um de camisa vermelha e o outro, branco, desdentado) tentam segurá-lo. Rider começou a sentir que, se sua vida fosse ter de lidar com aquilo, de agora em diante, ele deveria acostumar-se com tamanha violência. Antes de socar o rosto de cada um, ele pensou até mesmo em conseguir aulas de artes marciais com algum professor experiente no assunto.

O cabeludo consegue abater Rider ao jogar-se por cima do herói, o mulato com a faca prepara-se para cortar a garganta de seu algoz, quando este consegue dar um ponta-pé no estômago do cabeludo, e consegue livrar-se de ter parte de sua face cortada pelo jovem psicopata que tinha à sua frente.

Rider dá um chute nas costas do rapaz, que perde o canivete. Um dos meliantes, um sujeito com cara de espanhol, usando camisa vermelha, consegue socar Rider no estômago, fazendo com que caia no chão. Os quatro criminosos conseguem espancar o mascarado, mas não percebem que ainda há um elemento em jogo, o jovem que fora salvo por Rider havia assistido à luta e agora se arrastava no chão, tentando pegar o canivete que havia sido esquecido.

-Fiquem parados! – Gritou o moleque ao erguer a arma para o céu, enquanto segurava o peito, sentindo o que pareciam ser costelas quebradas.

Os quatro meliantes apenas fitam o guri, enquanto este tenta impor-se tentando salvar o sujeito que estava ali para livrá-lo dos agressores. Os quatro começam a rir.

-Você acha mesmo que isso vai resolver guri? – Falou o mais velho do grupo, que também era o líder do grupo: O branco desdentado.

Isso foi a cartada de que Rider precisava para agarrar um saco de bombinhas de festa junina, arremessá-las aos meliantes e fazê-los machucarem-se com as explosões.

Antes que eles pudessem reagir, Rider pegou uma corda de aço, amarrou-a ao pescoço do desdentado e usou-o como refém.

-Eu vou mandar vocês quatro pra cadeia!

Os três meliantes tentam recuperar-se pelos ferimentos causados pelas bombinhas, enquanto olham para o vigilante que segura seu líder, enforcando-o enquanto o jovem que eles haviam abatido estava parado em pé com o canivete nas mãos.

-Filho da puta, tu não sabe com quem ta mexendo! – Em meio a soluços e engasgos, o branquelo consegue gritar.

-Se você me disser de qual grupo vocês são, eu juro que não deixo o guri aqui te machucar tanto, pelo menos não tanto quanto você o machucou.

O alvoroço havia chamado a atenção das pessoas que estavam consumindo drogas ali perto, estes nada fizeram além de juntar-se ao redor dos insurgentes e serviram de platéia, fazendo comentários entre si.

Mas o verdadeiro problema ainda estava por vir. Um carro da marca Corsa, preto parou próximo ao meio-fio, na calçada onde estava acontecendo a briga. De dentro dele saíram homens de terno armados com pistolas e metralhadoras.

Grande parte dos drogados presentes correram por suas vidas, deixando que apenas Rider, o jovem com o canivete e os meliantes permanecessem imóveis.

Rider engoliu em seco, parecia que ele não havia mensurado a dimensão do problema que havia arranjado para si quando resolveu combater o crime em Joanópolis, pelo menos não até o momento em que viu aqueles indivíduos, todos usando óculos escuros e com expressões de frieza, que davam a eles a impressão de serem extremamente perigosos.

-Parece que encontramos o nosso vigilante. – Disse um dos homens de terno.

-É isso aí, chefia! Acaba com esse desgraçado antes que ele cause mais problemas! – Gritou o desdentado.

O sujeito de terno apenas voltou seu rosto para os quatro meliantes que estavam à sua frente. Não demorou um segundo até que ele disparasse alguns tiros de sua pistola contra estes.

-Poxa mermão, o que é que tu ta pensando? A gente ta a serviço dos Homens do Morro! – Gritou o branco enquanto esperneava de dor no chão, juntamente com seus subalternos.

-Você não passa de um peão, não há necessidade de tê-lo a meu serviço. – Respondeu o Homem de Terno.

-Acho que está na hora de darmos o fora daqui, parceiro.–Falou Rider.olhando para o garoto com o canivete, que estava ao seu lado. Este foi montado na bicicleta, Rider saiu pedalando o mais rápido que pôde.

Os homens de Terno liberaram fogo contra os dois mal-afortunados na bicicleta. Rider pedalou o máximo que pôde enquanto o garoto apenas segurava-se na bicicleta, visando sobreviver a tudo aquilo.

Quando finalmente perceberam que estavam seguros, Rider e o garoto saíram da bicicleta. Eles estavam acima de uma ponte abaixo da qual passavam dezenas de carros em alta velocidade.

O garoto foi até uma lanchonete próxima de onde estavam. Rider sentou-se na beirada da ponte para tentar recuperar-se dos inúmeros ferimentos que tinha.

Quando voltou, o rapaz ofereceu ao vigilante um prato do lanche que havia comprado.

-Você ta começando a ficar branco, supus que estivesse com fome e sede.

Rider atacou o sanduíche e bebeu o refrigerante que o sujeito lhe havia trazido.

-Meu nome é Tomas, se importa se eu fumar um baseado? –Falou o guri, enquanto abria um pacote plástico com um embrulho dentro.

Tomas era um garoto que parecia ter quatorze anos de idade, mas tinha dezoito. Era branco, loiro, tinha o aspecto de ser da classe média. Suas roupas rasgadas e seu rosto ferido denunciavam que ele realmente era um estudante que havia encontrado problemas com os traficantes de Sampa.

-Eu sei que é muita ousadia da minha parte acender essa merda bem na frente de um super-herói, mas acho que não vai fazer mal, né? –Falou Tomas, enquanto acendia o embrulho que tinha em mãos com o isqueiro que havia conseguido com o atendente da lanchonete.

-Você preparou uma armadilha pra mim, não foi? Me deu comida e agora resolveu me chantagear. – Respondeu Rider.

-Isso aqui – Rider apontou para o baseado. –Isso é o motivo de eu estar travando uma guerra contra os criminosos da cidade. Você parece ter dinheiro o suficiente para bastante coisa, e, parece que estava arranjando encrenca com alguns deles, por acaso sabe alguma coisa sobre eles?

-Aqueles caras de terno, e os que deram uma surra na gente... Eles são Homens do Morro. Os que me bateram são apenas peões, eles estavam querendo que eu pagasse o que devo pra eles, acho que quando você chegou alguém acabou fazendo contato com os caras de terno, esses sim são perigosos, aí, aposto que, pela descrição que fizeram, descobriram que você foi o cara que prendeu os peões da noite passada. –Respondeu o jovem de classe média.

-Por acaso já sabem quem eu sou?

Tomas tragou o conteúdo que havia no embrulho, pensou por um tempo e finalmente falou:

Os caras do Albert Einstein e do Elias Salomão tão comentando a seu respeito, só que você é negro! E você enfiou pancada não só em criminosos comuns, mas também no segundo cara mais temido da cidade, O Albert Junior, filho do Albert Einstein! Eu não esperava que tu fosse negro, saca? Negro e magricela! –Tomas riu por um instante.

-Ironia... Sabe... Parece que eles vão se encontrar hoje à noite em um dos alojamentos que estão sob poder do Einstein, os Homens do Morro estão pretendendo acabar de vez com a competição ao capturarem a esposa do Einstein.

-Caramba, esses caras não brincam em serviço... – Rider engoliu o último pedaço do sanduíche que Tomas havia lhe comprado, sujando a camisa branca com Ketchup e esvaziou a garrafa de refrigerante que tinha em mãos.

-Sabe, eu podia te levar pra cadeia agora, mas ao me fornecer algo que eu realmente necessitava, você se mostrou valioso no combate ao crime em Sampa. Você não é dessas áreas, né? Diga, o que foi que te fez ter o trabalho de vir até aqui no subúrbio, só pra conseguir maconha, ou seja lá o que for isso aí que você tem na boca. – Continuou o suposto herói.

-Eu tava meio depressivo, por que to cursando faculdade de engenharia elétrica e a coisa ta realmente tensa... Eu... Eu precisava de alguma coisa pra me acalmar entende?

-E você resolveu encontrar a paz fumando tudo o que vê pela frente?

-É mais ou menos assim.

Rider pausou por um instante, ele acreditou que o sujeito que estava à sua frente jamais lhe forneceria qualquer mal. Apesar de ser um drogado, playboy de classe média, que ajudava a financiar aquilo que o vigilante combatia, ele parecia ser um amigo em potencial, em verdade, o único com quem Joel sentira-se bem em conversar, parecia ser uma pessoa que entendia a sua dor.

-Meu pai foi espancado pelos caras do Einstein, eu não sei se ele vai sobreviver. Eu to nas ruas desde o meio-dia, não deu pra descansar até agora, meus ossos doem e meus músculos estão ardendo, eu quero vingar essa injustiça que fizeram com o meu velho, mas sinceramente eu to pensando em voltar pra casa.

-Sabe qual é o maior presente que um ser humano pode receber? A chance de fazer a diferença.

-Essa frase é do Dr. Estranho!

-Puta que pariu! Eu sabia que tu era do tipo que curtia um gibi da Marvel!

-Cumpadi, eu to usando uma máscara na cara, eu to tentando bancar o invencível e me fodendo legal com isso, o que CE acha que eu tenho na cabeça além de quadrinhos e mais quadrinhos?

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Elisandra lembrava-se nitidamente do dia em que havia conhecido Alberto, a sociedade o rejeitou, ela o acolheu, ele foi acusado de cometer crimes horrendos, e ela havia perdoado cada um deles e o apoiado em sua luta contra o poder militar da época. A verdade era que ela o havia acompanhado no alvorecer de uma nova vida, uma vida longe de violência e de mortes. Hoje, depois de ver seu ex-marido entrar para o tráfico e ser o responsável pelas mortes de centenas de pessoas, ela se arrependia amargamente de cada segundo que havia passado com ele.

Alberto nunca fora o sujeito bom que parecia ser, ele nunca cumpriu as promessas que havia feito, nunca agiu como uma boa pessoa, não como demonstrava agir. Depois que Junior, filho de ambos, havia nascido, ele havia tornado-se um alcoólatra, seus hábitos de higiene haviam decaído e a convivência com ele tornou-se degradante e sofrível.

Ela lembrava-se das noites em que Alberto voltava para casa, não apenas bêbado, mas com manchas de sangue nas roupas. Ela tinha certeza de que eram alguns traficantes rivais que haviam sido mortos. Ela era obrigada a deixar o filho trancado em um quarto, enquanto exauria-se fisicamente ao enfrentar o próprio marido durante horas.

Porém, tudo isso agora não passavam de memórias que ela tentava, a todo instante, fazer com que se esvaíssem e tornassem-se apenas feridas ignoradas. Que nunca iriam cicatrizar-se e que doíam de forma latejante, mas que ainda assim fossem ignoradas.

Ela agora vivia em um apartamento em Sampa, trabalhava como vendedora de azulejos para paredes, sua única luta agora se resumia a tentar convencer o filho a deixar de conviver com o que, segundo ela, eram más amizades.

Ela não precisaria mais de lembrar-se do passado que havia tido ao lado do agora “maior traficante de Joanópolis” se este não voltasse batendo à sua porta com a sutileza de um elefante.

Tudo começou com uma ligação suspeita, a pessoa ao telefone perguntava coisas pessoais a respeito de Elisandra, ela, obviamente, negou-se a responder.

Era tudo um plano para rastrear seu telefone e localizá-la.

Algumas horas depois, os sujeitos de Terno arrombaram a porta da frente do apartamento de Elisandra, apontaram uma arma sob sua cabeça, agarraram-na e levaram-na até o esconderijo dos Homens Do Morro.

Não era como se ela já não tivesse certeza de que estar relacionada a um criminoso a levaria à morte, Mas isso com certeza havia a surpreendido. Ela tinha certa fantasia sádica de que um dia seu ex-marido fosse entrar por sua porta, todo ensangüentado, e antes de morrer, lhe pediria perdão pelos anos de transtorno. Doce Ilusão, ela pensou, O crápula jamais se arrependeria, ele deixaria que ela morresse antes de perder seu império para seja lá quem fosse o inimigo dessa vez. Ela, friamente, começou a aceitar seu destino, já tinha suspeitas de que seu próprio filho estivesse se envolvendo no crime em Joanópolis, tudo o que ela poderia fazer agora era esperar por seja lá o que acontecesse.

Quando Cabeça de Azeitona viu a “esposa” de Albert Einstein, ele percebeu que era uma mulher de quase cinqüenta anos de idade. E seus olhos refletiam cansaço, não era um cansaço físico, mas sim moral, eram olhos de quem já havia perdido as esperanças há muito tempo.

Ele levou-a até um quarto no local em que estavam, amarrou seus braços, deixou-os um pouco folgados, ela não teria forças para livrar-se destes. Pincha, Travolta e os demais estavam carregando suas armas em uma sala ao lado. Apenas ouvia-se sons de balas sendo despejadas em cartuchos e estes sendo instalados em magazines.

Washignton fitou os olhos de Elisandra, seu rosto possuía certo charme, apesar da expressão séria e incógnita. Ele lembrou-se de sua própria esposa, agradeceu aos céus por ela não saber da vida que tinha no submundo da cidade. Depois de um tempo, falou:

-Eu sinto muito...

Elisandra estava de joelhos, olhou para o homem de mais de dois metros de altura à sua frente, nada podia ela fazer contra o brutamonte, ainda mais considerando que ele estava armado.

-Eu também sinto, sinto muito pelas decisões que tomei na vida. Sinto muito por ser a esposa de Albert Einstein.

Azeitona levantou-a e a levou até os demais, eles iriam escoltá-la até o esconderijo de Einstein e lá eles iriam negociar o futuro da guerra de poder em Joanópolis.

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Uma chuva de verão começava a cair, esta, gradativamente tornava-se uma tempestade. Trovões começavam a estourar e pequenos rios começavam a formar-se pelas calçadas de Joanópolis.

A virada do ano para Albert Einstein fora repleta de surpresas, ele havia descoberto que seu filho agora estava tentando vender algumas de suas mercadorias por conta própria, que o próprio já havia tentado assassinar membros de sua organização. “O crioulo de merda está tentando roubar o que é meu”. Pensou consigo mesmo.

A vida de Alberto Everardo era conturbada, mas cheia de requinte, ele era capaz de passar horas dentro de uma banheira gigantesca, na companhia de várias mulheres, tomando os melhores vinhos, uísques e licores, enquanto comia da comida mais cara que qualquer restaurante podia oferecer. Tudo isso enquanto se preocupava com o declínio das vendas de cocaína em pontos localizados no centro de Joanópolis, tudo por que um grupo de policiais havia quebrado o acordo que tinham com os vendedores locais e haviam limpado o local, e talvez estivessem atrás de Alberto visando levá-lo à justiça.

Esse tipo de situação fazia com que seus cabelos caíssem enquanto ele tentava passar uma noite desfrutando que os frutos do tráfico lhe traziam.

Albert era capaz de receber a notícia de que um bando de arruaceiros havia explodido uma das suas bocas de fumo justamente no momento em que tentava satisfazer uma prostituta, o que, obviamente, fazia com que ele falhasse miseravelmente.

Sua esposa o havia abandonado, seu filho o odiava. Nenhum outro familiar de que ele tinha conhecimento apreciava sua companhia. Sua vida era assim. Ele era infeliz, mas um infeliz que sentava em um trono de ouro, em meio a jóias televisões de plasma, charutos, cigarros, vinhos e demais futilidades. Todos eram facilmente queimados por gangues adversárias, ou, no caso dos vinhos, tinham as garrafas quebradas por balas vindas de invasores usando armas de países vizinhos ou até mesmo de contrabandistas da região.

Os membros do grupo de criminosos a serviço de Einstein estavam encharcados, alguns começavam a tossir e espirrar, porém, o gordinho continuava firme em seu propósito de tomar posse do depósito de armas que os Homens do Morro tinham em seu poder.

Ele sentia-se cansado e desmoralizado, mas continuava, era sua sina viver aquilo, seu destino era morrer no tráfico. Ele já havia perdido a conta do número de pessoas que havia matado desde a época em que lutava contra a ditadura militar até o presente momento. Sua vida consistia em transformar a vida das famílias de suas vítimas em desgraça. Afinal, era nisso que sua própria vida havia se transformado.

Ele sabia que os Homens do Morro eram uma organização muito mais numerosa e influente que qualquer uma que Joanópolis já havia visto, tomar posse desse depósito seria apenas arranhar a superfície de uma empresa que já havia transformado os habitantes de Joanópolis em seus subalternos, era imensa a opressão violenta que cada uma das facções exercia ante àqueles que ameaçavam não contribuir com o crescimento da organização ou denunciar para as autoridades. Mas agora, era hora destes ditadores serem substituídos por uma nova força, à serviço de Albert Einstein.

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Travolta estava em seu posto, ele aguardava pela hora em que receberia um toque em seu celular, e de que a mensagem que receberia era de que Albert Einstein estava morto.

Travolta era um sujeito extrapolado, ele perdia facilmente a paciência com seus subalternos, da mesma maneira que perdia a paciência com aqueles que jurava amar.

Um relacionamento conturbado e agressivo com uma ex-namorada com a qual teve um filho não assumido, que agora tinha sete anos, e que o abandonou quando descobriu que ele estava se envolvendo com criminosos eram os elementos principais de sua vida problemática porém, repleta de todo o luxo que a vida de um Homem do Morro tem a oferecer. É claro que a ex-amada de Travolta nunca falou absolutamente nada às autoridades, graças à promessa de que morreria pelas mãos do próprio, caso revelasse a vida destrutiva que seu cônjuge levava.

Ele havia começado como um peão. Subiu de cargo quando foi capaz de convencer policiais, com relações com os Homens do Morro, a deixarem que o posto fosse um depósito de armas da organização, amansando as relações entre policiais corruptos e os pupilos de Elias Salomão.

Travolta se considerava o Senhor das Armas, tudo aquilo que entrava para o arsenal dos Homens do Morro passava por seus olhos, ele era o mediador entre o que os soldados usariam na guerra e o que deveria ser mandado de volta ao fornecedor. E ele era o melhor no assunto.

Ele acendeu um cigarro e mandou que um de seus comparsas observasse as redondezas.

O alojamento era um ginásio de esportes abandonado, uma das salas principais era um vestiário onde as armas eram guardadas, o outro, era um campo de sessenta metros de largura e trinta de comprimento onde Travolta e os demais estavam.

O sujeito subiu pela arquibancada, olhou pelo espaço que havia entre o toldo e o pilar, fora o suficiente. Alguns tiros de Uzi pegaram direto em seu peito. Quando foi baleado ele rolou pela arquibancada e caiu aos pés de Travolta, cujo qual apenas limpou o terno manchado de sangue e ordenou que seus soldados subissem pela arquibancada e revidassem fogo.

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Albert Einstein atirava em qualquer filho da puta de terno que via pelos vãos localizados no ginásio, ele foi capaz de desviar de alguns tiros, porém, sua forma física não lhe permitia correr por muito tempo, ele decidiu se afastar e deixar que seus soldados atirassem contra o adversário.

O gordinho afastou-se do tiroteio quando viu uma figura vestida de verde e azul, subindo, por uma escada, até o topo do ginásio.

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Rider havia chegado atrasado para a festa, quando finalmente fora capaz de localizar o covil dos criminosos, estes já trocavam tiros entre si. Ele subiu até o teto e tentou armar um plano para acabar com os vilões, mas... O que fazer quando estão todos armados até os dentes?

As bombinhas que ele possuía em mãos já haviam se acabado, a corda que ele usou para amarrar um criminoso já havia sido esquecida, ele tentou usar medidas desesperadas.

Ele desceu a escada e foi para a área onde o campo de concreto se localizava, todos os homens estavam ocupados, atirando contra os soldados de Einstein, Rider tentou ser o mais sorrateiro que pôde, aproximou-se de um Homem do Morro, este estava liberando fogo contra o inimigo usando uma metralhadora. Ele imaginou que pudesse capturar o sujeito, poderia usá-lo como refém para chantagear os demais.

Quando agarrou o sujeito, a reação deste fora nada mais que desastrosa para o vigilante, ao invés de permanecer parado, sob o controle de seu capturador, começou a dar-lhe cotoveladas, Rider segurou o braço do infeliz com uma mão e com a outra apontou a metralhadora sob sua cabeça.

-Quer morrer? - Ele falou ao ouvido do criminoso.

Rider fora finalmente capaz de chamar a atenção dos Homens do Morro, eles pararam e encararam o vigilante, alguns ficaram espantados com tamanha coragem que havia em um sujeitinho franzino e nada ameaçador, que vestia boné, casaco e luvas verdes, calça azul, tênis amarelos, uma camiseta branca encardida com o símbolo do sol, e uma máscara verde cobrindo o rosto. Ele aparentava já ter levado uma surra de outros criminosos.

Rider não sabia se era Deus quem havia impedido que os homens de terno reagissem com violência à sua presença, não tinha idéia do por que ninguém atirava, do por que, afinal, ninguém fazia nada.

Do lado de fora, a chuva começava a amenizar. Os soldados de Albert Einstein preparavam-se para arrombar o portão da frente do ginásio. Eles bateram as coronhas de suas armas contra o portão até que este estivesse no chão.

Quando entraram depararam-se com um grupo de homens de terno virados de costas para eles.

-Hora, mas onde já se viu? Você ta querendo chantagear um chantageador? Vá à merda! Atirem nele! – Gritou Travolta.

Porém, alguém lá em cima estava a favor de Joel. Os soldados de Albert Einstein entraram metralhando os homens de Travolta. Foi a chance que Rider teve de correr e se esconder dos tiros.

-Eu não acredito nisso! Esse canalha acabou com a nossa chance de detonar com os homens do Einstein! –Gritou Travolta enquanto corria, desviando dos tiros, revidando-os e pegando o celular para informar seu superior que o adversário havia praticamente tomado posse do depósito de armas.

Joel não sabia o que fazer, ele havia permitido que vários homens morressem naquela noite, coisa que nenhum super-herói que tenha auto-respeito, permitiria que acontecesse. O fato de os Homens do Morro estarem sendo metralhados e assassinados em sua frente poderia ser algo positivo, já que a cidade estava livrando-se de mais uma praga que a assolava, porém, Rider era um herói, ou pelo menos considerava-se assim, ele não poderia deixar que pessoas morressem em sua presença. Nenhum super-herói deixaria isso acontecer e ele não seria diferente.

Rider viu um sujeito branco de cabelo liso, caído no chão. Ele gritava desesperadamente de dor, vestia uma camisa sem manga, bermuda e chinelos azuis. Ele chamava pela mãe.

Rider correu em meio aos tiros, parou ao lado do sujeito e começou a falar:

-O que você ta sentindo? Onde você foi atingido?

-Na perna, cara! Eu to perdendo sangue! Mãe...Mã... Mãe... Ela ... Ela tem doença mental cara, ela ta muito velha, ela precisa do remédio e ela não vai tomar enquanto eu não der pra ela! Ele mal consegue levantar da cama sozinha! Eu preciso ajudá-la a dormir! Olha, cara... Meu nome... – Ele começou a pausar a fala para respirar. – Meu nome é José... Mas a galera... Me chama de Vira Lata... Pelo... “Pelamordedeus”. Eu... Preciso dar... Preciso dar o remédio... Já passou... Da hora...

Rider levantou Vira-Lata e correu carregando-o nas costas em meio aos tiros, muitos dos quais passavam raspando por ambos. O mascarado não se preocupou, jurou que poderia morrer ali mesmo, caso alguém que queria ajudar a própria mãe não conseguisse sobreviver àquilo.

É claro que o Grande Filho Da Puta da noite era o próprio“Zé” Vira-Lata. Já que este resolveu ajudar um traficante a ganhar território em uma guerra idiota ao invés de ficar em casa cuidando da mãe. Mas, sendo assim, Rider também era um filho da puta, já que decidiu ir atrás de um traficante ao invés de ir ao hospital em que estava seu pai, que estava quase morrendo.

O vigilante conseguiu escapar do ginásio ileso, agarrou um celular que tinha em seu bolso e chamou o número de um amigo que havia feito recentemente.

-Tomas! Pelo amor de Deus! Tu disse que eu podia contar contigo pra qualquer coisa, então me ajuda nessa, cara! Chama uma ambulância aqui pra Avenida Mario Ribeiro! Teve um tiroteio e eu to tentando salvar um ferido! Manda logo!

Rider pegou a bicicleta que havia deixado próxima da calçada que beirava o ginásio, viu-se novamente na mesma situação em que estava na noite retrasada, ele estava levando um criminoso agonizante ao hospital mais próximo, estava desesperado por fazê-lo e ficava cada vez mais cansado.

Ao pegar a avenida, Rider começou a pedalar com velocidade, enquanto carregava o criminoso nas costas. Ele sentia o vento batendo em seu rosto, a noite estava fria para uma noite de verão, o ar estava úmido e isso lhe dava uma sensação nostálgica.

Rider viu um Ford Preto andando ao seu lado, ele se perguntou se seria algum bandido que o havia identificado e agora estava querendo executá-lo, porém, para seu alívio, era Tomas.

-AÍ cumpadi, tem uma penca de viatura da polícia vindo pra cá, eu acho que eles não vão estar nada felizes em te ver, eu, se fosse você, caía fora. – Falou Tomas em um tom agitado e preocupado.

-Tu tem idade pra dirigir? – Perguntou Rider enquanto deixava o ferido no banco traseiro do carro. Esse gemia de dor e ainda chamava, aos sussurros, pela mãe.

-Tu quer a minha ajuda ou não quer? – Respondeu o branquelo.

-Escuta, pode levar ele pro hospital Santa Cruz, mas... –Tem uma coisa que eu queria que você fizesse por mim.

-Eu já sei, quer que eu dê o remédio da senhora mãe dele, né?

Olha, cara, eu não sei como tu ta sabendo disso, mas fico feliz em saber que você já tem ciência da sua missão.

-Eu conheço muita gente que trabalha no tráfico, entende? Mas pode deixar que eu vou cuidar da mãezinha do guri, é só eu pegar as chaves da casa dele.

Rider pedalou de volta ao campo de batalha. Ele pensou em como Tomas fazia as coisas de maneira ilícita, mas ainda assim, parecia fazer parte de um mal necessário que o vigilante não tinha tempo para contestar.

Travolta foi o último a se render, ele baleou o máximo de adversário que fora capaz. Usou todas as armas com as quais possuía proficiência, usou até mesmo algumas granadas para explodir alguns dos homens de Einstein. Quando ele finalmente fora subjugado, ele o fez quando havia sido baleado no braço e espancado por vários meliantes inimigos.

Ele estava derrotado, quase sentiu-se aliviado quando ouviu as sirenes da polícia aproximando-se do local, o que, para um criminoso de classe alta brasileiro como ele não significava nada. Ele apenas lamentou-se do fato de que provavelmente iria dividir a cela com o primo de sua ex-namorada, um sujeitinho irritante, metido a machão que atendia pelo nome de Caio Alfredo. Um camarada que odiava o próprio nome, pois este não soava ameaçador o suficiente. E que nunca parava de se gabar de ter tornado-se um dos Homens do Morro, um verdadeiro playboy que agradecia a Deus por ter conseguido o que a vida como civil não pudera lhe oferecer. Dinheiro o suficiente para fazer o que quisesse, porém, a carreira como meliante do sujeito havia terminado quando fora preso por um indivíduo desarmado e isso era devidamente humilhante.

Travolta começou a especular que talvez pudesse adquirir informações a respeito do infeliz que havia prendido o seu “cunhado” e assim ajudar seu líder, Elias Salomão. Porém, suas esperanças acabaram quando os homens de Einstein o prenderam em uma das salas do ginásio. Ele apenas esperou pela morte enquanto a bala presa em seu braço lhe causava dores arrepiantes.

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Pincha fora, outrora, um advogado criminalista, sua influência e perspicácia como defensor de mafiosos já livrou o homem que chamavam de Elias Salomão de ser preso e agora este agia de forma totalmente clandestina, ninguém jamais havia visto o rosto do sujeito. Acreditavam-se que ele era um pai de família que agia às escuras para que ninguém relacionado a ele soubesse de sua vida como o homem mais poderoso de Joanópolis. Mas isso não passava de lenda urbana. Pincha fora o único que tivera contato direto com o sujeito e era o único que conversava diretamente com este sobre as relações entre o império dos Homens do Morro e as demais facções criminosas da cidade.

Depois de entrar para o grupo como membro da massa bruta e começou a não ser mais chamado por seu nome verdadeiro, mas por um apelido que o salvava de ser identificado pela delegada local, ele colocou outro advogado em seu lugar e tornou-se membro auxiliar da facção, virou responsável por ser nada mais que um guarda e um soldado em meio a tantos outros.

Isso era um alívio para Pincha. Agir na clandestinidade havia tornado-se uma tarefa bem menos estressante que ter de convencer juízes a agirem de acordo com sua vontade, lidar com a ira de policiais e familiares das vitimas de seus clientes e ainda por cima ter de convencer bandos de assassinos, estelionatários, formadores de quadrilha a comportarem-se diante das autoridades era devidamente problemático, estes, em sua maior parte, se achavam acima da lei, o que na situação em que o país estava, não era diferente da realidade.

Ele sabia o quão lucrativo era o negócio que havia se envolvido, mesmo assim, continuou sendo um Homem do Morro até o presente momento.

Pincha não tinha familiares além de uma falecida esposa e de uma filha que vivia fora do país desfrutando o dinheiro do pai sem moderação. Nesta noite, sua maior preocupação era em guardar o portão da ferraria abandonada, cuja qual servia de alojamento para o grupo de Albert Einstein. Esta era localizada cerca de alguns metros do ginásio.

Quando havia chegado ali, os Homens do Morro foram recebidos por meia-dúzia de guardas bêbados, armados com pistolas que foram inúteis. Estes já estavam sangrando, caídos ao chão, aguardando a morte.

A ferraria era um local alto demais para ser escalado, não havia janela alguma e era impossível entrar senão pelo portão da frente, guardado por Pincha e seus homens. O segundo meio de entrada era pela tubulação de ar do local, que eram utensílios necessários para eliminar o calor que fazia no local sem janelas para aliviar a temperatura.

O mulato de dread-locks recebeu a notícia de que o depósito de armas havia sido tomado e que a polícia ou os homens de Einstein, estavam se aproximando da ferraria.

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Quando policiais começaram a atirar contra seus soldados, Albert Einstein ordenou que estes pegassem todas as armas do depósito e revidassem contra os oficiais. Depois de descansar por algumas horas, o gordinho havia voltado ao ginásio e começou a ordenar que suas tropas mantivessem-se em posição.

A Polícia Militar já havia dado avisos aos criminosos dentro do ginásio, os oficiais já haviam cercado o local e já estavam prontos para prenderem a todos os que estavam lá dentro.

Havia uma vã do Jornal Nacional ali perto, o caos havia se generalizado quando os policiais foram obrigados a trocar tiros com os bandidos dentro do local. Não demorou até que as autoridades começaram a jogar bombas de fumaça dentro do ginásio.

Os homens de Albert Einstein foram ordenados a sair de dentro do local, eles já estavam cercados, a maior parte já estava baleada e caída ao chão. Porém, Alberto Everardo não estava disposto a desistir tão facilmente, ele mandou que jogassem granadas aos oficiais de justiça. Estas explodiram ao entrar em contato com os veículos da Polícia Militar. O alvoroço se sucedeu até que Alberto conseguisse encontrar um meio de fugir sem ser identificado por nenhum policial. Ele correu para fora do ginásio quando as granadas levantaram poeira com as explosões. Ninguém o viu, ele estava livre.

Havia centenas de civis como platéia para a situação caótica que era apresentada. Era óbvio que a situação seria notícia de capa no dia seguinte.

Os policiais correram com feridos, tentaram afastar os civis do local, não havia mais nenhum criminoso dentro do ginásio. Eles entraram, vasculharam tudo, ficaram de prontidão até que encontraram Travolta. Que jazia agonizante dentro de um dos vestiários do local.

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Pincha já desejava voltar para casa, já eram quase onze horas da noite e aquela situação não chegava a um fim, ele pensou em aguardar mais alguns minutos e mandar que seus homens se recolhessem.

Havia apenas uma única fonte de luz à frente da ferraria, um poste com uma lâmpada tão forte a ponto de cegar Pincha e impedi-lo de enxergar com facilidade

Foi quando Pincha viu a Lâmpada explodir, os estilhaços voaram por todos os lados. A iluminação em um raio de quarenta metros foi extinta. Alguém havia lançado uma pedra contra a lâmpada do poste. Logo depois, tudo o que Pincha ouviu foi seus homens gritando de dor:

-Alguém me acertou!

-Ai! Caralho! O que ta acontecendo!

-Puta que pariu, o que ta acontecendo?

-Cadê ele! Eu vou matar o filho da puta!

Eles estavam sendo espancados por um invasor fantasma. O caos fora liberado, os homens começaram a atirar cegamente, foi aí que Pincha interveio.

-Não atirem seus animais irracionais! Não atirem!

Antes que pudesse raciocinar sobre o que havia acontecido, Pincha foi baleado em uma das pernas, ele havia sido derrotado pela incompetência de seus soldados e quando deu por si, viu um indivíduo vestindo roupas que pareciam pertencer a um ciclista. Viu apenas a silhueta do sujeito, que o forçou a abrir o portão, quando este foi aberto e algumas luzes vieram de dentro do alojamento, viu que se tratava de um sujeito vestido de casaco verde e calça azul. O portão se fechou e Pincha jamais se esquecera o boné e a camiseta esvoaçante amarrada na cara do homem que o vencera. Pincha viu seu rosto antes de ser abandonado para trás como um cão atropelado.

Pincha rezou para que pudesse sobreviver àquilo. Quando os policiais, com lanternas, chegaram à frente da ferraria, viram uma dúzia de criminosos caídos ao chão, outros, correndo de desespero. Os membros da facção mais perigosa de Sampa foram transformados em frangos assustados e vulneráveis.

O capitão da ROTA, responsável pela operação local olhou para os caídos no chão, chamou seu segundo em comando e comunicou a delegada Jonna Darc do ocorrido.

-Eu não acredito que um moleque foi capaz de fazer isso! –Gritou um dos sujeitos de terno, enquanto permanecia ao chão, sentindo dor.

-Eu não acredito que você foi capaz de me acertar, seu filho da puta! – O mesmo virou-se a um outro sujeito que segurava o peito, dando a impressão de que havia levado um chute violento nas costelas.

Os policiais não sabiam como reagir. Agora era certeza de que havia um vigilante na cidade.

Espera aí- -Falou um deles. –Esse aqui é um advogado criminalista. Eu já vi uma foto sua no jornal quando ele livrou o Elias Salomão de apodrecer na cadeia!

-Vamos ver se o grandalhão aqui será capaz de defender-se atrás das grades!

Pincha amaldiçoou sua sorte quando os policiais apontaram uma lanterna em sua cara, e colocaram algemas em seus pulsos. Seu reinado havia terminado, sua identidade seria revelada e agora seu lucrativo negócio havia finalmente chegado a um fim. Pincha poderia proteger a si mesmo no tribunal, mas agora, sua reputação estava arruinada! “Maldita organização essa! Cheia de incompetentes! Eu ainda mato aquele vigilante!” Pensou, sem falar, pois Pincha não abriu mais a boca naquela noite.

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Elisandra sentia fome, cansaço, seus olhos pediam por descanso, ela estava amarrada a uma cadeira havia horas, a tensão crescia a cada segundo que passava.

Houve horas em que ela ameaçava desabar a chorar, mas jurou a si mesma que não o faria, em nome de toda a honra que ainda lhe restava, ela não daria esse gosto a qualquer demônio que estivesse rindo da sua cara naquele instante.

Ela começava a sentir a agonia e o desespero subirem suas entranhas quando ouviu sons de tiros vindo da parte da frente de onde estava.

-Fiquem parados, seu bando de filhos de quenga!

-Ah, vá à merda.

Era Cabeça de Azeitona que trocava tiros com os policiais, os sons e os estrondos duraram alguns, os sons e estrondos duraram alguns segundos, pouco depois de certo silêncio, ela viu um sujeito vestido de verde e azul pular bem na sua frente. Era um rapaz negro, com uma camisa amarrada na cara, coisa que mais parecia uma máscara. Ela disfarçou o medo, porém, percebeu que o indivíduo não lhe queria mal. Tão pouco parecia ser capaz de fornecer-lhe o mesmo.

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Ao chegar de volta ao ginásio, Rider havia recebido a notícia de que havia um inocente em perigo na ferraria localizada ao norte de onde estava. Ele havia ficado ainda mais preocupado quando soube que se tratava da esposa de Albert Einstein.

Ao chegar lá, viu que era um estabelecimento perigosamente bagunçado, haviam imãs suspensos por correntes, pedaços de carros velhos por todas as partes, havia um guincho abandonado no local, lixo, óleo espalhado pelo chão, ratos e baratas faziam parte do cenário.

Lá estava Joel, cansado, machucado, com ossos quebrados, enfrentando o inferno. Tudo para provar a si mesmo um ponto. Ele estava tentando fazer aquilo que deveria aquilo que era suposto que ele fizesse não aquilo que esperavam dele, mas aquilo que ele esperava de si mesmo. A única coisa que lhe permitiria ter uma boa noite de sono.

Ele conseguiu desamarrar a senhora usando um canivete que havia conseguido com um criminoso com o qual havia batido de frente há três minutos.

Elisandra notou que havia algo de diferente no olhar do jovem que estava à sua frente, ele não parecia ser daqueles maloqueiros com olhares frios e sem vida. Não parecia com aqueles com quem seu próprio filho convivia e, não tinha o olhar sanguinário que este próprio tinha em seu rosto. Era apenas um sujeito tentando fazer um bom trabalho. Se Elisandra tinha centenas de motivos para perder a fé na humanidade, parecia haver ao menos um para restaurá-la.

Ele a levou pelas tubulações de ar do local, caminho o qual fora usado para chegar até ali. Depois de entrar pelo portão, Rider escondeu-se nos tubos, visando proteger-se do tiroteio entre policiais e Homens do Morro. Os dois quase foram atingidos ao fazer o caminho de volta. Quando saíram de dentro da ferraria, Rider ajudou Elisandra a descer até o chão, o que fora difícil considerando a altura que estavam. Ele pediu a ela que corresse até os policiais e que tentasse inventar alguma história que não envolvesse um sujeito magricela ,vestido como um palhaço, salvando sua vida.

Mais uma missão cumprida, agora bastava que Rider localizasse seu verdadeiro alvo e o levasse à justiça.

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Grande parte dos homens de terno estava presa ou baleada pela polícia. Cabeça de Azeitona procurou abrigo, visando não ser a próxima vítima. Ele mandou que seus homens o seguissem. Entrou no local onde tinha deixado Elisandra. Pensou que, talvez pudesse ter uma conversa com a única pessoa que possuía uma áurea angelical ali. Pediu que seus homens se espalhassem para que pudesse dialogar pessoalmente com ela.

Foi quando viu que a mesma não estava mais lá.

-Eu não acredito no que estou vendo, esse maldito... Esse filho de uma puta!

Um toque em seu celular, Washington atendeu, rapidamente, esperando ser uma boa notícia em meio à maré de azar que ele estava tendo.

-Washington, onde você está? – Era a voz de Olivia ao telefone, ela não parecia soar contente com o fato de estar conversando com o marido.

-Eu estou terminando um serviço aqui para uma empresa de celular, meu bem, logo estarei voltando para casa e...

-Não adianta mais mentir pra mim, Washington, eu já sei de tudo... – Azeitona estava ofegante, talvez sua esposa tenha percebido o quanto ele estava tenso. Ele tentou disfarçar..

-Eu sei, meu bem, você sabe que eu tive uns problemas financeiros aqui na empresa e talvez a coisa fique mais difícil pra gente de agora em diante, mas é temporá...

-Eu falei com um homem de máscara hoje, ele me disse tudo, Washington, eu só estou te avisando que quando você voltar para casa, eu não estarei mais lá. – Olivia desligou o telefone.

Seu santo o havia traído. Azeitona atirou para o teto, com raiva, ele esvaziou o último cartucho de balas que havia para sua pistola.

Ele viu Travolta sendo preso da mesma maneira que os soldados de Albert Einstein, Pincha e seus homens serem levados pela polícia e seus próprios aliados serem baleados a abatidos ante seus olhos. Foi neste momento que Washington percebeu que estava lidando com uma força fora de seu controle. E ele não sabia quem eram os desgraçados responsáveis por tamanha afronta contra o império do qual ele fazia parte. Com certeza, fora uma facção terrorista estrangeira, espiões, agentes especiais de combate ao crime organizado, todos estavam visando frustrar os planos de uma organização criminosa criada com meticulosidade.

Azeitona jurou a si mesmo que iria encontrar o grupo e eliminá-los um por um.

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Alberto Everardo jurou que, a partir daquele dia, jamais iria enfrentar a polícia novamente, era loucura lidar com os homens de farda, ainda mais estando mal preparado para tanto, foi uma grande ousadia de sua parte ameaçar os policiais em público, agora que não havia mais nenhum de seus comparsas, ele se arrependia amargamente de tudo o que havia feito em sua vida. Fora tudo um erro, sua vida fora um erro, todo o esforço que ele havia feito para conseguir poder sobre outros seres humanos havia sido em vão.

Ele sentiu-se um tolo ao não se preocupar em salvar sua esposa das mãos dos Homens do Morro, esta provavelmente estava morta depois de ter sido torturada pelo grupo adversário.

Estava tudo acabado, não havia para onde correr.

Alberto cogitou a possibilidade de entregar-se à polícia, e passar algum tempo atrás das grades, talvez fosse uma boa idéia, na prisão ela seria respeitado, seria considerado um rei. Talvez ainda houvesse esperança para o miserável estilo de vida que levava.

Alberto decidiu entregar-se. Ele tinha relações com policiais e advogados corruptos, estes o impediriam de sofrer nas mãos de adversários que o esperavam atrás das grades.

Ele olhava o fogo incendiando o ginásio à distância, ouvia os tiros restantes de criminosos que ainda resistiam serem levados pelas autoridades.

Quando decidiu voltar para ser levado pela polícia ao seu novo lar, viu, pedalando uma bicicleta amarela, o mesmo sujeito que ele havia visto subindo o ginásio, quando a invasão fora iniciada. Ele viu naquele instante, que havia alguém ali que estava querendo frustrar seus planos e este o fazia às escondidas.

Ele correu, Alberto Everardo correu o máximo que pôde, correu como nunca havia corrido antes. Suas banhas chocalhavam enquanto ele o fazia, Mas era óbvio, que alguém, que passava o dia inteiro deitado em banheiras, fazendo nada além de ter seus desejos aliviados por prostitutas e dando ordens a seus subalternos por celular, não teria condicionamento para vencer um homem com uma bicicleta.

Ele entrou em um beco sem saída e aguardou pelo pior.

O ciclista chutou o gordinho calvo, que foi jogado ao chão e bufava como um porco prestes a ser dilacerado.

-Eu... Juro que se você me matar, você vai acabar em sérios problemas! Eu tenho gente poderosa trabalhando ao meu lado! Eles podem saber quem tu é, matar a tua família, te torturar e depois te matar!

-Eu estou disposto a correr o risco. Eu já arrisquei a minha vida centenas de vezes hoje, de que custa fazer isso mais uma vez?

Alberto cobriu a face com o braço, esperou pela própria morte quando viu o sujeito vestido de verde levar uma coronhada nas costas.

Era Cabeça de Azeitona, que havia conseguido escapar dos policiais, ao usar bombas de gás nestes.




-Eu vou matar você, Albert Einstein! Acabou tudo pra mim! Você é o culpado disso! Eu to todo fudido! Mas antes de acabar tudo, eu vou acabar com você!

Alberto olhou para Azeitona e começou a rir, era um riso que denotava desespero e agonia.

- O que foi?

-Você não ta vendo? Nós poderíamos ter-nos livrado de tudo o que aconteceu hoje se não fosse por esse fedelho que você acabou de abater! E você nem sabe que ele é o responsável por toda essa merda!

Azeitona virou-se para o lado, viu que não havia ninguém, ele apenas notou a presença do inimigo quando virou-se completamente para trás.


Ele viu um sujeito magricela de máscara vindo em sua direção. Este parecia possuir menos de dezessete anos de idade. Algumas horas antes ele havia recebido a notícia de que o vigilante que havia explodido um caminhão ante a um carro pertencente a alguns de seus peões havia escapado da polícia e estava solto tentando agredir os membros mais baixos de sua organização.

Por alguns segundos, que pareciam ter durado horas, Washington Evandro Silva não conseguia acreditar no que via. A razão de todos os seus problemas estava bem à sua frente e era apenas um adolescente vestido como um palhaço. 



-Não... Não pode ser... Foi necessário o esforço de uma milícia inteira para fazer o que você fez! Eu... Não acredito nisso!

-Não exagera... Sabe... Eu acho que a tua mulher vai querer ter uma conversa contigo quando tu voltar pra casa, ela está bem desapontada!

Azeitona atacou. Ele deu alguns socos que foram desviados até que foi capaz de segurar o vigilante pelas pernas e arremessá-lo contra latas de lixo encostadas sob uma das paredes de onde estavam.

Rider sentiu suas costelas arderem. Ele tentou atacar, porém, logo foi abatido por um soco na barriga, vindo de seu inimigo.

Azeitona segurou um dos braços de Rider com uma mão e com a outra, começou a socar o rosto do pivete, sem piedade.




Cada soco era como uma explosão para Joel, a dor apenas aumentava e o sangue espirrava dos orifícios do seu rosto. Ele iria morrer engasgando com os dentes que perdia a cada golpe, caso não tomasse uma atitude. Ele tentou, em um esforço agonizante, erguer o braço que tinha livre para segurar um gancho preso sob uma corrente que havia logo atrás do mafioso. Sem sucesso, o gigante segurou o outro braço, imobilizou o herói e, de presente ainda bateu o próprio crânio contra o nariz de Joel, esmagando-o.

Cabeça de Azeitona ergueu Rider com uma das mãos, em sinal de vitória, somente para, com todas as forças que tinha, bater as costas do coitado contra a parede, fazendo com que esta tremesse com o impacto.

-Acabou essa... Maldita e infeliz brincadeirinha acabou.

-A custo de que? – Falou Alberto, enquanto tentava disfarçar o choque que sentia com a brutalidade do homem de terno.

-Não cante vitória, algum dia você será o próximo... Mas não hoje... – Cabeça de Azeitona limpou o sangue que tinha nas mãos e em parte de sua cabeça.

-Aí ô Zé Mané! – O Homem do Morro virou-se para trás apenas para ser atingido por um gancho de três toneladas na cabeça.

-Eu posso até acabar morrendo aqui, mas não antes de te causar muita dor.

Era Rider, que erguia-se triunfante ao abater seu adversário. Olho roxo, feridas por todas as partes de seu corpo, a cara, pintada com seu próprio sangue. Azeitona caiu ao chão e permaneceu lá, deitado, inconsciente.

-Albert Einstein apenas olhou para o moleque negro em pé, à sua frente, este tinha uma expressão assassina em seu rosto.

-Então... Não vai terminar com ele? – Perguntou o gordinho.

Rider se aproximou do traficante.

-Eu não tava falando com ele.

O Super-Herói de Joanópolis pegou a cabeça de Alberto Everardo e, com força, torceu-a para seu lado direito.

A força fora tanta que quebrou o pescoço do meliante. O homem que havia matado seu pai teve seu destino.


Rider viu um carro preto parado atrás do beco onde a luta teve seu palco. Era da marca Ford. Foi caminhando, vagarosamente até este, enquanto seu sangue pingava no chão, pegou sua bicicleta, colocou-a em um suporte que havia no porta-malas do carro, adentrou-o , bateu a porta e deixou que o motorista desse partida no veículo.

-É, meu amigo Tomas, acho que você daria um bom Alfred Pennyworth.

Fim