Wednesday, September 4, 2013

Episódio 1 - 30 de Dezembro de 2012





A Vila Joanópolis, localizada na periferia de São Paulo, é um local difícil de viver. O crime é constante e pessoas morrem todos os dias. Essa é a motivação que incentiva o misterioso vigilante, conhecido como Rider, a iniciar sua cruzada contra todos os malfeitores que fazem da população de gato e sapato!

Na verdade a história não é bem assim. Na vida real Rider não passa de um infeliz muito desocupado que sonhava em tornar-se super-herói, Decidindo assim amarrar um pedaço de camisa rasgada na cara e bater de frente com os criminosos mais perigosos de Joanópolis!

Acompanhe a dolorida e infame história de um Zé Ninguém que foi capaz de transformar a Vila Joanópolis em um local mais fácil de viver! Ou pelo menos é isso que pensamos!

Dia 30 de dezembro de 2012

Posto São João localizado próximo da Saída para Sampa

São nove horas da noite e a loja de conveniências está entrando em horário noturno, todos os funcionários já terminaram seu expediente, todos além de João, o caixa responsável pelo turno da noite. Um sujeito baixo, de pele bronzeada, nariz grande, tinha dentre 20 a 30 anos. Usando o uniforme do posto, começa a bocejar e sentir os efeitos do dia mal-dormido que teve, desejando profundamente estar em casa.

Tudo o que pode-se ouvir são os sons dos carros passando pela avenida e o barulho agudo do rádio colocado em cima do balcão de atendimento, local este que abriga cigarros, latas de refrigerante e barras de chocolate, a loja é humilde, porém, agradável. Uma garoa leve começa a cair, que vai gradativamente transformando-se em uma tempestade preocupante.

João presencia, entrando em sua loja, um sujeito magricela, usando óculos de aro preto , a porta de vidro é aberta, permitindo que um vento gelado entre com violência e misture-se com a brisa vinda de um ar condicionado localizado no canto superior esquerdo da parede que cobre os fundos da loja.

O magrelo parte para a estante de revistas do local. João não dá demasiada importância, já que julga-se perfeitamente capaz de impedir qualquer investida que um sujeitinho de aparência tão inofensiva pudesse tentar.

João volta a prestar atenção na transmissão do rádio, que relata um dos jogos mais importantes da história do Corinthians, o time de futebol mais amado do pais.

Pouco tempo passa até que três camaradas, de aparência intimidadora, adentram a loja e começam a observar a área de comidas embaladas.

Após murmurarem entre si, os indivíduos aproximam-se do caixa e colocam aquilo que desejam sob o balcão. João faz o seu trabalho, pega uma calculadora e, fingindo estar calmo, pressiona os botões da pequena máquina, visando somar os preços de cada produto que tem à sua frente. Um dos rapazes, Caio, observa cada movimento do atendente do caixa.

Caio é branco, usa cavanhaque e bigodes pretos,veste uma camisa branca e um crucifixo envolto em seu pescoço, careca, ele usa tênis e bermuda aparentemente caros.

João começa a preocupar-se com a maneira ameaçadora que Caio o observa, em sua insegurança, o funcionário da loja pergunta:

-O... O senhor deseja mais alguma coisa?

Caio encara João e sorri:

-Sim, eu quero o dinheiro que você tá devendo pro Elias Salomão.

-Senhor, eu não faço idéia do que está falando.

-Pois eu faço.

Caio embrulha os cabelos de João com a mão direita e enfia a cabeça do coitado sobre o balcão de atendimento que balança e move todos os objetos dentro de si.

-Por favor, não... Não façam nada comigo! Podem levar tudo o que desejarem! – Grita João enquanto sente o sangue escorrer pelo nariz.

-Podemos levar tudo mesmo? Então tá bom, vamos levar algumas coisas como garantia de que você ainda vai pagar. Peguem o que quiserem, rapazes. –Responde o meliante.

Os ajudantes de Caio servem-se de barras de chocolate, cigarros e salgadinhos, abandoando o local sem entregar ao menos um centavo a João. Este permanece calado, com lágrimas nos olhos e sangue sendo despejado de suas narinas.

Caio e seus comparsas adentram o carro que os levou até ali, este está ocupado por dois membros de sua gangue, eles possuem a aparência de quem está “doidinho” para matar alguém. O carro dá a partida visando encaminhar-se a seu próximo destino.

Dentro do carro, um dos capangas, Sete, um rapaz mulato, vestindo casaco vermelho e gorro preto, delicia-se com uma barra de chocolate, sentindo o sabor do objeto que acabara de roubar enquanto olha para a janela de vidro aberto ao seu lado.

Sete sente-se um homem com sorte, ele acabou de cumprir uma missão dada por seus superiores, os conhecidos como Homens Do Morro. Ele sentia-se satisfeito por poder fazer parte de um dos grupos criminosos mais influentes em Joanópolis, seria apenas uma questão de tempo até que pudesse subir de cargo e ganhar um salário quase milionário.

A vida para Sete é boa até o momento em que ele sente seu rosto ser interceptado por uma mão enluvada vinda de fora da janela.



O motorista se assusta com a figura pedalando uma bicicleta amarela ao seu lado, por conseqüência acaba golpeando o carro para o lado do acostamento.




O indivíduo salta de seu pequeno meio de transporte para segurar-se no teto do carro, é um homem negro, magro, vestindo boné, casaco e luvas de motoqueiro verdes, ele possui uma camisa rasgada amarrada na cara, esta cobre da testa até os olhos, que enxergam através de buracos rasgados na parte da frente Sua camisa branca, possui uma imagem do Sol estampada no peito, calça azul encardida e tênis amarelos dão a impressão de ser um sujeito vindo do gueto. Ele possui proteções para os cotovelos e para o joelho sobre as mangas do casaco e pernas da calça. Estas haviam sido adquiridas exclusivamente para esta situação. Seu nome é Rider, o mais novo vigilante de Joanópolis. Tentando agora ser a cura para a doença que assola essa cidade!




O carro começa a golpear de um lado para outro na tentativa de livrar-se do intruso, que começa a ter dificuldades para manter-se estável sob o teto do veículo.

-Eu não o deixarei entrar! – Grita Caio, sacando uma pistola e apoiando as costas na parte externa da janela do carro, atirando seguidamente contra o corajoso guerreiro de roupas verdes.

Os primeiros três tiros foram desviados, porém, a quarta bala passa raspando sob a gola do casaco de Rider, fazendo com que este desista e deixe seu corpo ser levado pela inércia. Machucando-se severamente com a queda, ele olha para o carro e começa a arrepender-se de ter saído de casa

-Teria sido melhor eu ficar em casa lendo gibis. – Fala a si mesmo, em tom de derrota.




Porém, sua sorte muda no momento em que o automóvel derrapa passando por um buraco repleto de água, conseqüência de ter desviado de um caminhão, dando um cavalo-de-pau e indo parar no acostamento da avenida em que estavam.

O caminhão, por sua vez, para um pouco afastado dos criminosos.

Caio, Sete e os demais se vêem forçados a sair do carro que acabou não respondendo mais e parando de funcionar no acostamento, tornando-se obsoleto para o grupo.

-Mas que merda! Olha o que aquele filho da puta fez com a gente! – Grita um dos meliantes.

Caio não responde a seu companheiro, apenas procura, com os olhos, pelo seu adversário jurando para si mesmo que iria matar o desgraçado quando o encontrasse.

Porém, tudo o que o criminoso vê é o caminhoneiro saindo de dentro de seu veículo. Caio segura sua arma com as duas mãos e aproxima-se do caminhão a alguns metros de seu carro.

-Sai daqui! Some! - Ele aponta a arma na direção do motorista, que foge aos prantos e pedindo clemência, abandonando seu veículo com a chave na ignição.

O meliante continua sua procura, ele circula o caminhão, sem sucesso, ele olha para a parte de baixo da máquina, nada. Finalmente, sem esperanças, sobe o teto e permanece em pé sob o compartimento de carga do veículo.

Não demora até que o infeliz sente o automóvel dar partida e mover-se.

Caio havia caído na armadilha do vigilante.

-Agora é você quem vai ter que se segurar aí em cima, trouxa! – Rider grita para o pato indefeso enquanto manuseia o volante do caminhão.

Caio decide tomar medidas desesperadas e atira na lataria do veículo, porém, é logo jogado para o lado, perdendo sua arma e sendo obrigado a segurar-se no compartimento de carga.

-Pode ficar tranqüilo que eu ainda não terminei com você! – Fala o mascarado enquanto dirige o caminhão em direção ao carro onde Sete e os outros estão.

CRASH! O caminhão vai de encontro ao veículo menor. Rider é capaz de escapar pouco antes da explosão que é causada pelo aquecimento dos motores de ambos os automóveis. Pouco antes de todos os criminosos serem jogados violentamente ao chão com o impulso.

Caio quase perde a consciência ao ser jogado para longe, ele fere-se seriamente ao ponto de mal ser capaz de manter-se em pé, ele fita os pedaços de metal e vidro espalhados pelo chão que haviam sido esvoaçados no momento da explosão, o fogo e a fumaça permanecem dançando em meio aos destroços dos dois veículos.

O meliante começa a desejar não ter saído de seu abrigo quando é agarrado pelo vigilante maníaco, que possuía o semblante de quem profundamente desejava matar alguém naquela noite.

Os sons dos carros de polícia aproximando-se do local tornam-se cada vez mais altos, hoje não era o dia de sorte de Caio e seus amigos.

Rider encara seu algoz com seriedade, sangue na boca, olho roxo e roupas rasgadas.

-Á partir de agora vocês estão lidando com algo que vocês não são capazes de controlar. Podem dizer pro Elias Salomão e pra todos os Homens do Morro que ele pagará por todos os crimes que cometeu contra o povo de Joanópolis. Sabe por quê?

-Porque ele vai saber o que significa lidar com um homem que não tem medo de morrer.



Os veículos com marcas da polícia militar aproximam-se em velocidade. Sirenes gritando. Rider sai correndo e some dentre os estabelecimentos do local, deixando que o mistério seja resolvido pelo Departamento de Investigação Criminal de Joanópolis. O grande herói da noite, Senhor Almir, o caminhoneiro que fez uma ligação ao cento e noventa e denunciou os indivíduos que estavam portando armas na avenida, estava agora prestando depoimento e contribuindo para que os criminosos recebessem a sentença que mereciam.

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João estava agradecendo o fato de ter encontrado algodão para estancar o sangue sendo eliminado por suas narinas, tomou umas aspirinas para a dor e decidiu que iria considerar o porte de armas uma opção viável para que pudesse defender a si e ao estabelecimento do qual era responsável.

Hora, quem ele estava querendo enganar? Era óbvio que não poderia portar uma arma de maneira legal. O baixinho pegou um pacote de cocaína escondido em um compartimento no balcão de atendimento, cujo qual havia sido criado especificamente para que ninguém o descobrisse, nem mesmo o próprio gerente do local. Ele alisou o plástico e lembrou que jamais poderia ser dono de uma arma na situação que estava.

-Se me pegarem. – Pensou-Estarei perdido.

Não demorou até que um cliente adentrasse a loja, João apressou-se em esconder o pacote que tinha em mãos.

O indivíduo pegou uma revista em quadrinhos, levou-a até o caixa, pagou por ela e, antes de partir, terminou dizendo:

-Depois dê uma olhada ali na frente, parece que deixaram alguma coisa pra você.

João reconheceu o sujeito. Era o mesmo magrelo que havia entrado na loja antes que o atendente terminasse a noite com o nariz sangrando. João fitou o rosto escuro do rapaz franzino que estava à sua frente, parecia estar um tanto machucado, havia aberturas de ferimentos em seus braços e arranhões em seu rosto.

-E vê se procura um médico, parece que o seu nariz ta quebrado. – Disse o magrelo.

O sujeito partiu, João começou a perguntar-se se realmente havia algo para ele ali à frente do posto, esperou alguns minutos e deixou sua curiosidade tomar conta.

Quando saiu até à frente do posto, viu um pacote plástico transparente envolto em algumas embalagens de chocolates, cigarros e salgadinhos. Havia um bilhete amarrado com uma fita verde. Este dizia:

“Cortesia do seu amigo Rider, não vá comer tudo de uma vez, pois pode te fazer mal.’

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